"Uma criança é como o cristal e como a cera. Qualquer choque, por mais brando, a abala e comove, e a faz vibrar de molécula em molécula, de átomo em átomo; e qualquer impressão, boa ou má, nela se grava de modo profundo e indelével." (Olavo Bilac)

"Un bambino è come il cristallo e come la cera. Qualsiasi shock, per quanto morbido sia
lo scuote e lo smuove, vibra di molecola in molecola, di atomo in atomo, e qualsiasi impressione,
buona o cattiva, si registra in lui in modo profondo e indelebile." (Olavo Bilac, giornalista e poeta brasiliano)

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Maternidade: psicóloga fala sobre Síndrome do Ninho Vazio

Profissional fala sobre o conflito emocional gerado na mãe ao ver o filho sair de casa na fase adulta



Por Ingrid Dragone

E quando os filhos saem de casa? Como fica a mãe? De quais cuidados ela precisa nessa hora? Para responder a essas e outras perguntas sobre a Síndrome do Ninho Vazio, entrevistei a psicóloga Ana Tereza Lima, especialista em Terapia Familiar. Confira o resultado!


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Que fatores podem definir se a mulher está com a Síndrome do Ninho Vazio?A Síndrome do Ninho Vazio é o nome dado a uma forma de reagir à saída dos filhos, que, na fase adulta, seguem adiante para construir suas vidas. Trata-se de mais um ciclo que as famílias atravessam, com particularidades, emoções e aprendizados peculiares. A Síndrome pode atingir o casal, mas, frequentemente, são as mulheres que vivenciam essa experiência de forma mais expressiva. Quando se vê sem os filhos, ela passa a sofrer de inseguranças, tristeza, sentimento de vazio, rebaixamento da autoestima.
O que caracteriza a Síndrome? 
Todas as pessoas buscam ao longo da vida algo que lhes dê sentido, seja através de crenças, atividade profissional, vida afetiva ou autoconhecimento. Muitas mulheres fazem da maternidade o seu ofício; e do lar, seu porto seguro e lugar de expressão. Com a saída dos filhos e por consequência, a perda do lugar de cuidadora, a mulher pode ser tomada pelo sentimento de inutilidade, de falta de sentido. A quebra da rotina de anos dá lugar a uma disponibilidade e liberdade estranha e desconhecida. O fato de os filhos não necessitarem mais dos seus cuidados como antes, produz uma desorganização, que tanto pode ser vivida como uma crise como pode ser uma oportunidade de ressignificação do sentido de ser dessas mulheres. 

A rotina que a mulher levou a vida inteira pode levá-la a ter a Síndrome? Por exemplo, uma mulher que tem uma frustração pessoal ou profissional tem maior tendência a sofrer? Qual o perfil da mulher que fica em pior estado?
A realidade atual, em que a mulher tornou-se ativa economicamente, produziu mudanças importantes quanto a esse sentimento, mas ainda encontramos frequentemente mulheres que adoecem, deprimem, sentem-se perdidas no momento em que os filhos saem de casa, até porque, muitas acreditam que esse lugar é o único que lhes cabe. Uma pessoa que tenha dificuldades com cortes, afastamentos ou perdas, também poderá vivenciar isso como um verdadeiro luto. Quanto mais a mulher tiver uma rotina de vida, incluindo aí trabalho, estudo, investimentos na carreira profissional, vida afetiva satisfatória, vida social, ou seja, atividades além da função materna, mais facilmente enfrentará essa etapa. Nem todas as mães vivem essa experiência como algo doloroso. 
A Síndrome é uma espécie de depressão? Se não, pode chegar a ser?
Por se tratar de uma vivência de tristeza profunda, com sentimentos de desqualificação e falta de norte, existe a possibilidade de agravamento até um quadro depressivo severo. A história de vida desta mulher, associada a históricos familiares, a forma como a saída dos filhos se deu, a rede social e vincular no seu entorno, tudo isso pode contribuir para uma maior ou menor intensidade da Síndrome.

Como os filhos podem ajudar a mãe nesse caso?
O papel dos filhos e de toda família é importantíssimo nesse processo. Os filhos devem compreender o sofrimento da mãe e ajudá-la a atravessar esse momento, mostrando o quanto estão bem e em condições de seguirem suas vidas como adultos, e estimulando nela novos contatos, novos ambientes e vínculos, onde ela poderá viver novos interesses e aprendizados. Essa experiência pode ser transformadora, quando aproveitada como uma chance para recomeçar, retirar da gaveta os planos adiados.

O que a mulher pode fazer para minimizar os efeitos da saída dos filhos de casa?
A Síndrome do Ninho Vazio é mais um ciclo que a família enfrenta, assim como o nascimento de um filho ou a morte de um membro. No entanto, é um processo que vai se construindo ao longo do período de crescimento dos filhos até que chegue o momento de eles seguirem com suas escolhas pessoais, profissionais e afetivas. Se a mulher preserva sua individualidade, a possibilidade de viver essa experiência de maneira enriquecedora e prazerosa é enorme! Afinal, ela é coparticipante do sucesso dos filhos que agora saem pra trilhar seus próprios caminhos. É também um rico momento para que o casal possa resgatar sua convivência e intimidade, e realizar sonhos adiados com a chegada dos filhos. O tempo disponível poderá ser integralmente dedicado à relação. 

Quando a mulher não vive mais com o pai dos seus filhos a situação se agrava? Falo em termos de ela não ter um companheiro em casa para dar apoio.
Geralmente uma mulher que não tenha o companheiro ao lado, seja por separação ou morte, tende a investir mais o seu tempo nos filhos. Isso certamente acarreta uma sobrecarga emocional na relação, contribuindo para que o afastamento se dê de forma mais dolorosa.

E se ela sobrecarregar os filhos com a tristeza, chegando a culpá-los, como eles devem agir? 
Essa reação é bastante frequente. Os filhos e seus parceiros sofrem muito.É fundamental que os filhos se mantenham firmes na sua trajetória, apoiando a mãe no sentido de estimulá-la a encontrar um sentido para sua vida, a partir de si mesma. Um acompanhamento psicoterápico é indicado e eficiente nessas situações, porque ajuda a mulher a descobrir o que lhe mantém nesse padrão de relacionamento dependente com os filhos. Colabora também para que ela descubra seus propósitos e interesses pessoais, fazendo com que antigos projetos encontrem espaço de realização.

Ana Tereza Lima. Psicóloga (CRP 03/ 0680), formada pela Ufba, com Especialização em Psicologia Clínica, Terapia Familiar e Casal ( UCSal), e  Analista Bioenergética (Sociedade de Análise Bioenergética da Bahia). Atua como psicóloga clínica com adolescentes, adultos, casais e família, e coordena grupos terapêuticos.
Fonte: http://www.ibahia.com/detalhe/noticia/maternidade-psicologa-fala-sobre-sindrome-do-ninho-vazio/?cHash=b716062696850df8b87d0561cbb9aa12

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