"Uma criança é como o cristal e como a cera. Qualquer choque, por mais brando, a abala e comove, e a faz vibrar de molécula em molécula, de átomo em átomo; e qualquer impressão, boa ou má, nela se grava de modo profundo e indelével." (Olavo Bilac)

"Un bambino è come il cristallo e come la cera. Qualsiasi shock, per quanto morbido sia
lo scuote e lo smuove, vibra di molecola in molecola, di atomo in atomo, e qualsiasi impressione,
buona o cattiva, si registra in lui in modo profondo e indelebile." (Olavo Bilac, giornalista e poeta brasiliano)

domingo, 11 de agosto de 2013

Não são os dentinhos, é a fase oral!


Elena Kalis

Por Cintia Liana Reis de Silva
 
Porque os bebês babam e colocam objetos na boca

Philippe Ariès foi um importante historiador e medievalista francês da família e infância. Seu nome é o mais forte quando se trata da história social da criança. Em meu primeiro livro, "Filhos da Esperança", eu o cito, e falo que na idade Média as pessoas não tinham noção das particularidades da criança, da sua ingenuidade, delicadeza, por exemplo. Elas eram vistas e tratadas como mini adultos. Imagine a falta de informações e conhecimento acerca da infância naquela época! Ainda hoje sabemos e respeitamos muito pouco as crianças. Eu me lembro disso quando alguém olha para minha filha colocando um brinquedo na boca e pergunta se os dentinhos estão nascendo, com a certeza de que isso tem relação direta, mas sabia que a necessidade e a ansiedade de colocar os objetos na boca e babar não é por causa dos dentes?

A fase oral, primeira fase do desenvolvimento psicossexual infantil descrita por Sigmund Freud, o pai da psicanálise, inicia desde o nascimento (hoje já se sabe que inicia na gestação) e vai até aproximadamente os 18 meses de vida da criança. Alguns estudiosos verificaram que já no segundo trimestre de gestação os bebês, dentro da barriga da mãe, já chupam o polegar com desenvoltura e com vigor em média 18 vezes por hora.

A boca é a primeira zona erógena. Erógena é o nome dado a uma zona de prazer. Esse fenômeno da oralidade e da busca pelo contato físico e do calor faz com que o bebê procure o seio da mãe para sugar, ou seja, essa procura pelo seio não é por causa dos dentes, mas já é a fase oral em ação, onde todo o contato de prazer do bebê com o mundo é através da boca, dos lábios, da língua, da gengiva e está associado a alimentação. Enquanto é alimentada, a criança é também confortada, aninhada, acalentada e acariciada. Quando o bebê ingere o alimento é como se ele o incorporasse e é assim também com o seio materno, com a figura materna, é como se ele incorporasse a mãe, isso reforça o sentimento de ser  continuidade dela nos primeiros dois anos de vida.

É através da boca que o bebê tem o maior sentimento de descoberta, ele baba de desejo quando vê um objeto que lhe interessa experimentar. A sensação é de experimentar uma experiência em 4 D. As terminações nervosas ajudam a entendem o que estão mordendo.

O balbucio, o início da fala, assim como o nascimento dos dentinhos fazem parte desta fase. Os dentinhos começam a aparecer a partir do 6º mês mais ou menos. Alguns bebês ganham os primeiros dentes aos 10 meses que vão até o início das 3 anos, aproximadamente, mas bem antes disso, já no terceiro mês, além do seio da mãe, demonstram esse imenso desejo de sugar, primeiros suas próprias mãozinhas, apertam as gengivas, fazem barulhinhos com a boca, depois experimentam outras coisas, até os dedos dos pés, encostam a boca em tudo e seu mundo vai se ampliando.

A visão não é o forte do bebê, que continua a desenvolver a sua capacidade visual nos primeiros meses, e começam a enxergar com a mesma nitidez formas e cores, exatamente como nós adultos, a partir do 7º mês.

O conflito característico da fase oral é o desmame, que pode gerar reflexos como inapetência, vômito, hábito de ranger dentes, inibições da fala.

A criança amamentada o suficiente, ou seja, até mais ou menos os 2 anos de idade, como indica a Organização Mundial da Saúde, terá maiores chances de preservar mais fortemente aspectos como segurança e ingenuidade.

A não satisfação, conflitos ou traumas orais podem ser encontrados em pessoas que comem demais, em fumantes ou em traços como, ganância, dependência, intolerância, agitação, curiosidade e fofoca.

Por vários motivos o desmame deve ser feito com muito cuidado e delicadeza e entender e saciar o desejo de colocar algumas coisas na boca é essencial para o bebê, para que ele sinta o prazer de descobrir um pouco mais do mundo que o cerca, o mundo do qual faz parte.  Ele cresce e entra em outras fases sucessivas, descobrindo outras zonas do corpo e ganhando consciência delas.
 
Por Cintia Liana Reis de Silva

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