"Uma criança é como o cristal e como a cera. Qualquer choque, por mais brando, a abala e comove, e a faz vibrar de molécula em molécula, de átomo em átomo; e qualquer impressão, boa ou má, nela se grava de modo profundo e indelével." (Olavo Bilac)

"Un bambino è come il cristallo e come la cera. Qualsiasi shock, per quanto morbido sia
lo scuote e lo smuove, vibra di molecola in molecola, di atomo in atomo, e qualsiasi impressione,
buona o cattiva, si registra in lui in modo profondo e indelebile." (Olavo Bilac, giornalista e poeta brasiliano)

domingo, 16 de dezembro de 2012

Crenças equivocadas sobre parto e maternidade

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Por Cintia Liana Reis de Silva

Muito se fala e repete sobre crianças, maternidade, parto e educação, mas quase todas as afirmações não passam de grandes mentiras, talvez para trazer mais conforto psicológico, comodidade aos erros alheios e menos culpa. Difícil é ver alguém indo pesquisar sobre um determinado assunto ou perguntando a um psicólogo. Fica mais fácil ouvir a repeição do senso comum, a opinião popular, baseada numa cultura capitalista, industrial e fria, que acredita naquilo que é mais lucrativo e vatajoso.
Os maiores equívocos que constato hoje estão relacionados à repetição de crenças baseadas em experiências pessoais ou o que se imagina, com origem na cultura e na fantasia. Mas muito do que falamos é o que queremos acreditar e não a verdade dos fatos. Muitas dessas crenças as pessoas nunca pararam para se perguntar de onde vêm e se são realmente válidas.
Nossa psiquê, por exemplo, nos passa a informação mais conveniente, a que nem sempre é real e quem nunca fez um trabalho de auto conhecimento, como uma psicoterapia, talvez nunca saberá quem é de verdade e quais são suas reais necessidades, feridas, dilemas e dificuldades.

Citarei alguns equívocos e mitos sobre parto e maternidade:
· “As mulheres esquecem a dor do parto” – Não, as mulheres não esquecem a dor do parto, apesar de ser uma dor muito forte. Comecemos por desconstruir a crença de que a dor do parto é negativa, pois ela não é, o sofrimento não é necessário, a dor sim. Ela é necessária neste momento de rompimento, pois transporta a mulher para outro nível de consciência, para outra dimensão e compreensão do momento de transformação pelo qual está passando. A equipe médica deve demonstrar proximidade e humanidade para que a mulher se sinta mais forte, evitando que situações de dor e medo se transformem em sofrimento e abandono. O nascimento de seu filho é  um momento de renascimento para ela, nasce uma mãe, e a dor faz com que ela entre em contato com suas necessidades, com as necessidades da criança, com a sua passagem e, sobretudo, abandone a realidade fria do hospital e dos procedimentos médicos, para pensar só em si e em seu bebê. O corpo tem memória, ele não esquece nenhuma dor, ela está alí, adormecida, mas foi necessária e é instintiva (GUTMAN, 2008).

· “O bebê nasce quando ele quer” – Não, o bebê nasce quando a mãe se dá conta de que está preparada, e juntamente com o bebê sentem a harmonia do momento oportuno de dar e ganhar vida. A psiquê materna está diretamente ligada ao corpo do bebê, este como continuidade dela, e se a mulher for sensível, pode ter um parto muito tranquilo e sereno, com a “cooperação” da criança.
        
· “O trabalho de parto rápido é o melhor” – Não, o parto rápido não é melhor que o parto lento, cada mãe e bebê têm seu tempo especial para fazer a “passagem”. Um trabalho de parto de 24 horas pode ser bom, depende de como a mulher vive aquele momento, sobretudo com consciência, aproveitando cada minuto para ser protagonista do seu processo e “reencontra-se mais autentica que nunca” (GUTMAN, 2008, p. 40). Se a mãe e o bebê precisam de 24 horas de trabalho de parto para que essa transformação aconteça, deixemos que seja assim, nada é por acaso, pode ser um processo de reconhecimento de uma situação e não podemos desrespeitar o tempo de cada mulher, ela deve ser a protagonista, a rapidez médica não importa. O parto não é um procedimento puramente cirúrgico, antes de tudo é um fenômeno humano para a vida.

· “Bebê no colo se torna dependente” – O bebê já nasce dependente. Hoje se criou uma mentalidade de que bebê que fica um pouco no colo se torna dependente, e foi esquecido que o contato direto com a mãe é algo essencial para o desenvolvimento biopsicosocioafetivo da criança, e que, se ela pede colo, é porque precisa daquele calor, da troca, do envolvimento amocional, é porque este envolvimento é necessário por algum motivo que nem sempre a mãe tem a capacidade ou a abertura para entender. Hoje os adultos censuram muito as crianças, como se elas fossem animalzinhos a ser adestrados, mas estão longe de conseguirem compreendê-las. É ideal que a criança crie um “apego seguro” (ler sobre a teoria do apego de Bowlby) com seus pais, caso contrário, isso se refletirá em seu mundo adulto, trazendo muitos prejuízos, em todos os níveis.
    
· “A bebê que chora muito não é bom” – O bebê que chora muito e adoece em continuidade está fazendo o favor de comunicar que algo não vai bem em seu ambiente. A fusão emocional com a mãe, que dura até aproximadamente os seus dois anos, faz com que ele sinta e expresse tudo o que não vai bem com ela, seus medos inconscientes, seu deconforto emocional, suas memórias negativas, suas dificuldades relacionais e qualquer rejeição que ela venha a sentir em relação ao filho, que normalemente está diretamente ligada a sua própria infância e a sua relação com sua mãe.
                        
· “Depois de parir a mãe deve se sentir feliz” – O pós parto é um momento delicado, onde cada mulher tenta reencontrar e se conectar com sua identidade, que entra em harmonia com a nova. É um momento intenso, difícil, contraditório, que pode ser triste e ao mesmo tempo feliz, um momento de ajustes psíquicos e hormonais, onde cada mulher vive da maneira que pode, de acordo com sua história de vida, devendo ser repeitada e ajudada com amor.
    
· “Não existe fómula para educar filhos” – Pode não existir uma fórmula, mas seguramente existe um caminho justo e, a depender a disponibidade interna, pode transformar-se num caminho simples. Antes de ter um filho, os futuros pais devem educar a si mesmos. Não serve de nada exigir agressivamente dos filhos aquilo que nem você consegue fazer. Muitas pessoas têm filhos para satisfazerem seus desejos, mas poucas se perguntam se podem dar mais que receberem, ou se estão prontas, completas e dispostas a darem uma base sã a quem vem ao mundo. Querendo ou não, os filhos são um reflexo de como vêm os pais, inclusive a parte negativa que muitas vezes nem eles mesmos se dão conta de que têm. É preciso trabalhar a relação com seus pais, pois esses modelos passam de geração em geração como também as feridas intergeracionais, sem as pessoas tomarem consciência da necessidade de mudar e criticar sua própria educação, que certamente não foi perfeita como se pensa. É necessário humildade para aceitar a imperfeição. Um bom exemplo é que os pais me procuram para atender em psicoterapia os filhos que apresentam dificuldades, mas poucos se colocam a disposição para entenderem no que podem estar errando com eles. O pai da teoria do apego disse, “é na hora de tornar-se progenitor que se reabrem feridas intergeracionais, e como dar ao filho algo que não se teve?” (SILVA, 2012).
               
· “Toda mulher nasceu para ser mãe” – Não, nem toda mulher quer ser mãe, nem toda mulher está pronta para ser mãe e nem toda mulher é uma boa mãe, isso vai depender da história familiar de cada uma, de sua base, de suas expectativas, de seu presente. Cada mulher vive a maternidade de um modo, ou seja, do modo que é capaz de viver, de acordo com seus referenciais de vida e cuida de seu filho do modo que pode, dando o que tem, baseado no que teve e no que reconhece em si.

·  “Mãe adotiva não é mãe de verdade” – Mãe adotiva é mãe. Não é necessário parir para se tornar e se sentir mãe, o amor maternal é desenvolvido a partir da intenção, consciência e convivência com a criança e ela se sente tão mãe como qualquer outra mãe que deseja o seu filho.
 
É muito fácil repetir crenças populares, acreditar no que nos dá mais conforto, mas o caminho correto é buscar conhecimento e sobretudo desenvolver autocrítica e sensibilidade para olhar o mundo e cada ponto com suas particularidades, independente do que aprendemos ou do que é mais confortável, é não ter medo e nem preguiça de pensar, sentir e refletir.

Referência:
GUTMAN, Laura. La maternità y el incuentro con la propria ombra. Buenos Aires: Editorial Del Nuevo Estremo, 2008.
SILVA, Cintia Liana Reis de Silva. Filhos da Esperança: Os Caminhos da Adoção e da Família e seus Aspectos Psicológicos. Salvador: Edição do Autor, 2012.

Cintia Liana Reis de Silva é psicóloga e psicoterapeuta, especialista em psicologia conjugal e familiar, vive e trabalha na Itália, é autora de dois livros publicados no Brasil, seu blog conta com mais de 15.000 acessos ao mês, o www.psicologiaeadocao.blogspot.com.

sábado, 15 de dezembro de 2012

A verdade é o princípio da adoção

Ser honesto com os filhos sobre todo o processo é a melhor maneira de evitar desententimentos

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09/12/2012 01:34 - MYLLENA VALENÇA

“O filho é a resultante esperada da relação homem-mulher; é como se o equilíbrio se completasse a partir de um terceiro referencial. É da interação dessas três forças (ou mais) que surge a verdadeira unidade”. O sentido da afirmação do psicólogo Luiz Schettini Filho é o ponto de partida para que muitos casais optem por a­dotar uma criança quando, por algum motivo, não podem gerá-las. Mas apesar de toda a grandiosidade e beleza da adoção, existe uma fase delicada, pe­la qual todos irão passar: a ho­ra de contar à criança a verda­de so­bre sua origem. É preciso matu­ridade para que este mo­men­to seja encarado pela fa­mí­lia com total naturalidade, evitando  traumas aos pequenos.

Em seu artigo “Uma psicologia da adoção”, Schettini diz que a criança adotada necessita do conhecimento de sua origem. “Dizer a verdade tem sido um desconforto, quando não um motivo de pânico, para alguns pais. É como se a histórica revelada pudesse destruir o afeto familiar. Porém, as dificuldades nas relações interpessoais poderão surgir muito mais pela manutenção dos segredos do que pela revelação da verdade”, garante Schettini, que é especialista em psicoterapia de crianças e adolescentes e o maior escritor do assunto no Brasil.

Esposa e parceira de Luiz em pesquisas, além de presidente do Grupo Estudo e Apoio à Adoção (Gead), no Recife, a psi­cóloga Suzana Schettini a­crescenta que a criança precisa tomar conhecimento de sua realidade mais ou menos aos 2 anos, com palavras simples e de uma forma que ela pos­sa en­tender. “Na verdade, os pa­is irão apenas confirmar o que, inconscientemente, a cri­ança já sabe. Ela tem percepções e ins­crições psicológicas da vida intrauterina e da transpo­sição pa­ra a família adotiva. Tan­to que, atualmente, não se fa­la ma­is em ‘revelar’ a história mas, sim, comunicar. Isso não de­ve angustiar os pais”, pontua Su­zana. De acordo com a psicó­loga, eles são as pessoas que devem fazer esta comunica­ção, para evitar  que a criança tome conhecimento de for­ma inadequada, através de terceiros.

Meninos e meninas terão um entendimento mais claro de sua adoção a partir dos 6 ou 7 anos e a reação deles ao fato vai depender de como lhes foi passada a sua realidade. “A criança aprende o mundo da forma como os adultos ensinam. Se estes se sentem seguros e confiantes na sua condição de pais, assim a criança também se sentirá. 

É o que acontece com a fonoaudióloga Auriany Nunes e o motorista Gustavo Souza Leão, que hoje esperam seu primeiro filho biológico, mas, primeiro, adotaram Arthur, de 4 anos, quando ele era um bebê de 3 meses. “A chegada dele só nos trouxe alegria e por isso esclarecemos os fatos naturalmente. Sobre a sua vida, não queremos deixar lacunas”.

Fundadora do Geadip, grupo de apoio à adoção, em Belo Jardim, no Agreste, Tatiana Valério tem duas meninas: Maria Júlia, 6, e Maria Alice, 4. Ela e o seu marido, o autônomo Marcos Valério, sempre procuraram a forma mais leve de falar com elas sobre o assunto. “A mais velha já entende, mas eu digo à mais nova: mamãe e papai queriam muito outra filha. Um dia, o telefone tocou e era a juíza perguntando: ‘é da casa de Marcos e Tatiana? Tem uma menina aqui esperando vocês’. E nós fomos correndo buscar você!”, conta Tatiana, que sempre põe a sinceridade em primeiro lugar. “Ela está na fase de dizer que saiu da minha barriga, mas sou firme: não, filha; os pais podem ter os filhos ou a­dotá-los e nós adotamos você!”.

Suzana Schettini resume bem toda essa questão: “A adoção é apenas uma outra forma de se chegar à família. Na verdade, to­das as crianças precisam ser a­dotadas para se tornarem filhos, porque a filiação somente acontece através dos vínculos afetivos, ou seja, pela adoção. Assim sendo, todos os filhos precisam ser adotivos, mes­mo os biológicos, ou não serão filhos de fa­to. Os pais que não adotam as suas crianças afetivamente, são apenas genitores”. 



domingo, 9 de dezembro de 2012

Propaganda de natal sobre adoção da Seara

De fato, quem se prepara, alimenta o desejo de ser mãe, ou o descobre, seja ela na gravidez biológica ou na adotiva, entende que a maternidade é um momento de renascimento, de resignificação da vida, dos valores. E quanto mais a mulher estiver consciente dessas mudanças, desta força, desses significados e simbolismos ela só cresce e amadurece. Parabéns a Seara pela linda propaganda.

sábado, 8 de dezembro de 2012

Emoção de Homem

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Por Augusto César Maia

O aspecto emocional tem profunda influência sobre o desenvolvimento integral do ser humano, pois este é basicamente um ser emocional. As emoções desempenham um papel fundamental no desenvolvimento da personalidade e na formação do caráter da criança. Por isso, os pais precisam reconhecer que os afetos de seus filhos são importantes para o desenvolvimento deles. O problema não está nas emoções, ou naquilo que se sente, mas nas experiências de vida que cada um teve ou tem, pois a criança se educa emocionalmente a partir dessas experiências. Nossos atos, comportamento, maneiras de pensar e sentir sofrem influência das experiências que tivemos e temos.

O olhar daqueles que cercam o bebê tem uma extrema importância em seu desenvolvimento emocional. Logo após o nascimento, os pais ensinam por meio de gestos, voz, brinquedos e roupas a que sexo o bebê pertence e quais as emoções a serem expressas em função do mesmo.

Os homens tradicionalmente passam por experiências que lhes desencorajam chorar ou a transparecer emoções. Desde cedo, são ensinados a não se “exporem”, com frases do tipo: “homem que é homem não chora”, “seja homem e pare de chorar”. Essas experiências sinalizam ao menino que revelar emoções é um sinal de fraqueza e que ser homem é ser forte. Afinal, aprendem desde cedo que “macho, que é macho, aguenta tudo firme e não dá um pio”, ou seja, “homem que é homem, suporta tudo calado”.

Contudo, existe uma exceção principal à regra de que os homens não demonstram emoções – a raiva. Os homens aprendem que é certo demonstrar raiva, pois ela é considerada um sinal de força em nossa cultura machista. Um homem pode ficar bravo, nervoso, ou uma fera, e sua atitude será interpretada como “virtudes varonis” em nossa sociedade. Afinal, homem é assim mesmo!

Montserrat Moreno, uma estudiosa contemporânea, assevera que “esta imagem, nós não a fabricamos do nada, mas a construímos a partir dos modelos que a sociedade nos oferece. E é a sociedade e não a biologia ou os genes que determina como devemos ser e nos comportar, quais são nossas possibilidades e nossos limites”. Portanto, todos nascem com a capacidade de sentir emoções. Não obstante, nem todos estão sujeitos às mesmas normas, conceitos familiares e sociais que controlam, modificam e reprimem as emoções de acordo com o sabor sociocultural da época.

Portanto, as emoções devem ser entendidas dentro de um contexto global, como um todo “biopsicossocioespiritual”, que não se desagrega.

Emoções (do latim emovere, “movimentar”, “deslocar”) são, como sua própria etimologia sugere, reações manifestas diante de condições afetivas de intensidade variável que nos mobilizam para algum tipo de ação. Ou seja, as emoções são estados afetivos ou sentimentos que experimentamos quando nossas necessidades são satisfeitas ou frustadas – algo que influencia todos os outros aspectos do nosso comportamento.

Durante o desenvolvimento emocional, de uma forma ideal, deve-se preparar as crianças para serem bem-sucedidas no que se refere a lidar com aspectos frustrantes ou desagradáveis da vida, assim como para poder apreciar os aspectos agradáveis.

As emoções influenciam nosso comportamento de várias formas importantes: podem levar-nos da passividade para um envolvimento ativo; podem dirigir o curso de nossas ações aproximado-nos ou distanciando-nos de nossos objetivos; podem ainda dificultar nossa percepção da realidade, levando-nos a agir inadequadamente.

Ligações emocionais

É uma afirmação óbvia a de que nossas relações interpessoais começam a partir da relação da criança com a pessoa que cuida dela. Inicialmente, esta interação é uma forma de assegurar a sobrevivência, alimentando-a quando tem fome, acalmando-a quando está inquieta, limpando-a quando está suja – uma relação que reforça a dependência da criança.

Por muitos anos, considerou-se que a criança estivesse passivamente envolvida nessas primeiras interações. Atualmente, sabemos que ela desempenha um papel ativo em todas as facetas de sua socialização, determinando de algum modo o que acontece com ela. Por exemplo, inicialmente, o choro da criança é sempre o mesmo, quer ela esteja com fome, sentindo dor ou algum desconforto. Com um mês de idade, identificam-se dois tipos de choro: o de fome e o de dor. Assim, a criança é capaz de comunicar aos que cuidam dela quais são suas necessidades imediatas. Isso significa participação ativa.

Entre o primeiro e segundo meses, dois comportamentos significativos aparecem: o contato olho a olho e o sorriso espontâneo, que marcam o início da ligação emocional da criança com aqueles que a cercam. Parece haver um período crítico entre os 4 e 12 meses de idade, durante o qual essa ligação precisa ser formada. Se for negada à criança a oportunidade de estabelecer um vínculo afetivo com as primeiras pessoas com quem mantém contato, possivelmente sofrerá síndrome de privação afetiva, bem como de depressão anaclítica ou hospitalismo. Esses estados patológicos foram inicialmente identificados por René Spitz, que atribuiu sua causa à privação materna, sofrida durante o período crítico para o estabelecimento da ligação. Pesquisas mais recentes sugerem que tanto a privação sensorial como a materna (ou a da pessoa que dela cuida) contribuem para essas primeiras patologias no desenvolvimento afetivo. Embora os efeitos da privação sensorial e emocional não sejam irreversíveis, como se acreditava, quanto mais tempo a criança sofre essa negligência, mais difícil será superá-la.

Os sentimentos e emoções são forças poderosas para aperfeiçoar e tornar a nossa personalidade mais atraente. Eles dão colorido e variedade à vida. Não são faróis para nos guiar, mas forças poderosas que devem ser dirigidas com sabedoria. Se as emoções forem bem canalizadas pela mente, com expressões e desabafos adequados, poderão ser de grande utilidade para todos. Quando são mal administradas, podem se tornar muito nocivas. Portanto, as ligações emocionais da criança com a mãe e o pai desde cedo são vitais para uma vida saudável.

Augusto César Maia é doutor em Psicologia
[Fonte: Vida e Saúde – Mar 2010, p.47 a 49]

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

O meu filho precisa mesmo de terapia?

Foi com muita alegria que estreei como colunista do site Indika Bem no dia 28 de novembro de 2012.
O Indika bem é um excelente site, onde reúne especialistas de várias áreas da ciência, filosofia e da vida cotidiana, falando de assuntos importante e de grande interesse.
Confiram o meu primeiro texto.

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Por Cintia Liana Reis de Silva

É muito comum casais procurarem terapia para o filho quando detectam que este apresenta alguns sinais persistentes de dificuldades em casa, na escola ou em outros grupos sociais, porém as teorias científicas psicológicas provam que a criança é um reflexo do que ela vive e das impressões que tem do comportamento de seus pais e até do que não é dito em casa, dos segredos, dos tabus, dos preconceitos, de como interpreta as dificulades cotidianas e sobretudo de como sente o mundo que é apresentado à ela. As crianças sentem tudo e é muito natural emitirem algum tipo de resposta ao mundo, do seu modo particular.

Poderíamos dizer que é desaconselhável e até irresponsável atender em psicoterapia uma criança pequena sem introduzir seus pais num processo de reconhecimento da origem das dificuldades. Seria como trabalhar aquele que está fazendo o favor de comunicar a existência de um desequilíbrio familiar e reintroduzí-lo no ambiente adoecido, que nem os pais se deram conta de que não está fucionando de modo justo. Nesse sentido, os pais devem ser bem orientados e aderirem à proposta do trabalho terapêutico aceitando a necessidade de se questionarem.

Devemos usar aquele que está comunicando o desequilíbrio para deflagrar mais ainda o que é de fato importante trabalhar e, a partir daí, propor o conhecimento das situações conflitantes, os motivos, os padrões, os maus hábitos de todos e caminhar em direção a possíveis mudanças.

É claro que é muito mais difícil olhar para si mesmo e admitir que algo pode não estar indo bem e que o filho está sentindo tudo, para isso é preciso humildade e trabalhar o sentimento de culpa. É difícil admitir que o sistema familiar está desorganizado e desarmonioso, afinal os adultos não querem errar, muito menos com os filhos. Talvez seja mais fácil crer que o problema nasce e acaba no filho que, aos olhos de muitos adultos, é um ser que ainda não aprendeu a viver, que não está acostumado com o mundo ou que é rebelde. É mais simples e mais ingênuo pensar assim e usar essas desculpas para não se enxergar, mas se trata de uma fantasia que não ajuda em nada.

A criança, por menor que seja, é um ser que merece respeito, ser tratada com educação. Ela muitas vezes já indica quem será quando adulto e quais são suas prioridades, vontades e tem senso de direitos. Os adultos precisam aprender a entendê-las, o que estão querendo expressar, e aceitar com humildade que eles podem estar errando. As crianças nascem com intuição, sensibilidade e emoção aguçadas, ao longo do tempo é que se pode ir perdendo tudo isso.

Se deve agir com sabedoria e fazer um diagnóstico dos sistemas em que a criança está inserida, pois ela é um reflexo de como está sentindo o mundo e sobretudo reflete quem são de fato os seus pais, seu lado positivo e negativo. Mesmo que doa, ver a sua própria imagem negativa refletida no filho é uma tarefa importante para a transformação de todos e das futuras gerações, tomar consciência deste processo e mudar. As crianças repetem o que os pais fazem de censurado socialmente e eles brigam com ela, sem ao mínimo terem se dado conta de que eles é que deram o modelo.

Tudo pode mudar quando todos resolvem colaborar e ser sinceros, reconhecendo as dificuldades, sem usar de “culpas”, promovendo mudanças sadias. Afinal, uma vida sã propõe crescimento, inteligência e coragem para enfrentar os limites com verdade. E ter filhos é uma responsabilidade muito séria, que muitas pessoas não se dão conta do tamanho desse doce e forte compromisso, nem mesmo depois de tê-los.

Cintia Liana Reis de Silva é Psicóloga e Psicoterapeuta, Especialista em casal, família e Adoção