"Uma criança é como o cristal e como a cera. Qualquer choque, por mais brando, a abala e comove, e a faz vibrar de molécula em molécula, de átomo em átomo; e qualquer impressão, boa ou má, nela se grava de modo profundo e indelével." (Olavo Bilac)

"Un bambino è come il cristallo e come la cera. Qualsiasi shock, per quanto morbido sia
lo scuote e lo smuove, vibra di molecola in molecola, di atomo in atomo, e qualsiasi impressione,
buona o cattiva, si registra in lui in modo profondo e indelebile." (Olavo Bilac, giornalista e poeta brasiliano)

sexta-feira, 2 de março de 2012

A revelação da adoção

Google Imagens
02.03.2012
Por Guilherme Lima Moura

Na nossa casa, adoção é assunto do dia a dia. Minha esposa, nossos filhos e eu falamos sobre o tema com naturalidade porque a atitude adotiva é parte intrínseca da educação que lhes damos, como o é da própria constituição da nossa família. Essa naturalidade foi também introduzida desde o início aos demais familiares: avós, tios, primos. E igualmente nos nossos círculos mais próximos de convivência.
O resultado disso é que nossos filhos se apropriaram naturalmente do conceito de adoção e fazem uso dele em várias situações. Eles entenderam que a filiação é sempre e necessariamente adotiva. E também que precisamos adotar uns aos outros, a natureza, o planeta. Entenderam que a adoção é o amor em ação e, como tal, se expressa na relação que estabelecemos em todos os contextos. Entenderam, sobretudo, que a atitude adotiva é um processo relacional inspirador para a vida ou, no dizer do biólogo Humberto Maturana, é uma postura que “aceita o outro como legítimo na relação”.
Importante dizer que aprendemos esta forma natural de tratar do assunto (como muito do que sabemos hoje sobre o fazer-se pai/mãe) na convivência regular com os amigos do Grupo de Estudos e Apoio à Adoção do Recife (Gead Recife). Nas nossas conversas, compartilhando experiências e, particularmente, pelo privilégio de poder contar com a palavra esclarecedora de Luiz Schettini, com suas muitas primaveras vividas na adoção como psicólogo e como pai.
Nos nossos encontros mensais do Gead, um dos assuntos recorrentes, pela natural rotatividade dos participantes, é o que ficou conhecido como “a revelação”: quando e como contar aos filhos sobre a adoção? E a resposta: deve-se contar desde sempre. Simples assim.
Temos vivido essa experiência há cerca de sete anos. Explicamos que nossos filhos nasceram da barriga de outras mulheres (sua genitoras) e que elas não puderam ser suas mães. “Aí papai e mamãe foram buscar vocês para serem nossos filhos amados”, completamos. Tudo narrado de acordo com a maturidade que a idade permite.
De tempos em tempos o assunto surge naturalmente e nós, também naturalmente, narramos mais uma vez a história. Falamos de detalhes interessantes e emocionantes do nosso primeiro encontro. Rimos juntos. É um momento mágico. E assim eles vão elaborando o conceito no tempo deles, sem que haja tabus ou “indiscutíveis” na nossa relação. Como diz a querida amiga e presidente do Gead Recife, Suzana Schettini, “os filhos terão a naturalidade e a segurança que observarem em seus pais”. Pura verdade.
Infelizmente, muitos pais adotivos cometem o equívoco de esconder a adoção de seus filhos. E, ao fazerem isso, terminam por lhes negar o acesso à sua própria história. Com a intenção de protegê-los de algum tipo de sofrimento, terminam abrindo mão de construir com eles uma história afetiva baseada em verdade. Omitindo-lhes parte tão relevante de seu passado, elaboram com eles um presente sempre incompleto e melindroso − porque há sempre uma verdade no ar que ninguém pode expor, mas que os filhos parecem intuir.
A experiência clínica de muitos psicólogos, bem como as conclusões de diversos estudos sobre o assunto, demonstram que, quando os filhos adotivos têm acesso à sua história através de terceiros ou descobrindo sozinhos, quase sempre reagem muito mal. Entretanto o motivo de tal reação não é a condição adotiva em si, mas o fato de terem sido enganados por aqueles que sempre foram sua referência primária de confiança, verdade e honestidade. E terminam por deduzir que se esse fato lhe foi escondido é porque se trata de algo feio ou errado.
O que cada um fará em tal circunstância é tão variável quanto o é a própria diversidade humana. Supor causalidade entre a especificidade da filiação e a maldade é tão equivocado quanto cruel. É discriminatório. É mais provável, isso sim, que a maldade humana se manifeste onde não haja adoção, considerando que a filiação é construída sempre no afeto, existam ou não os laços biológicos.
Até quando apontaremos na direção errada? Até quando acreditaremos que o sangue é capaz de nos oferecer aquilo que só podemos construir na convivência amorosa?!
A adoção é o amor em ação. Então porque escondê-la? O que é tão lindo tem mais é que ser dito e vivido com a cabeça erguida e o sorriso no rosto: “Sou filho adotivo, sim. Bom seria que todos fossem...”
Guilherme Lima Moura é pai adotivo, integrante do Gead (Grupo de Estudos e Apoio à Adoção do Recife) e professor da UFPE
Fonte: http://ne10.uol.com.br/coluna/atitude-adotiva/noticia/2012/03/02/a-revelacao-da-adocao-329761.php
 
Postado Por Cintia Liana

Um comentário:

Kariinynha disse...

Oi boa tarde!
Estava verificando alguns profissionais na aréa de Psicologia Juridica, pois estou na Gradução da mesma, na Universidade Paulista, fui solicitada para entrevistar Psicólogos nesta aréa.
Gostaria de saber se a Sra disponhe de alguns minutos de sua atenção para que possa realizar esse trabalho didático.
É importante lembrar que caso a Sra permita a entrevista é feita sob gravação de áudio apenas para fins didáticos. Manteremos sigilo absoluto sobre a sua identidade, e não divulgaremos nada.


Desde já agradeço a sua colaboração.
Meu e-mail:
kariinynhapriscess@hotmail.com
Leonir Karine