"Uma criança é como o cristal e como a cera. Qualquer choque, por mais brando, a abala e comove, e a faz vibrar de molécula em molécula, de átomo em átomo; e qualquer impressão, boa ou má, nela se grava de modo profundo e indelével." (Olavo Bilac)

"Un bambino è come il cristallo e come la cera. Qualsiasi shock, per quanto morbido sia
lo scuote e lo smuove, vibra di molecola in molecola, di atomo in atomo, e qualsiasi impressione,
buona o cattiva, si registra in lui in modo profondo e indelebile." (Olavo Bilac, giornalista e poeta brasiliano)

sábado, 31 de dezembro de 2011

"Vinte coisas que filhos adotados gostariam que seus pais adotivos soubessem"

Mandy Lynne

Extraído do livro “Vinte coisas que FILHOS ADOTADOS gostariam que seus PAIS ADOTIVOS soubessem”, de Sherrie Eldridge.

“Sofri uma perda profunda antes de ser adotado. Você não é responsável”.

“Preciso que me ensinem que tenho necessidades especiais decorrentes da perda da adoção, das quais não tenho por que me envergonhar”.

“Se não lamentar minhas perdas, minha capacidade de receber amor de você e dos outros ficará comprometida”.

“Meu pesar mal resolvido pode vir a tona como raiva de você”.

“Preciso de ajuda para lamentar minha perda. Ensine-me a entrar em contato com meus sentimentos a respeito da minha adoção e então valide-os (respeite-os, faça-os valer)”.

“O simples fato de não falar sobre minha família biológica não quer dizer que eu não pense nela”.

“Eu quero que você tome a iniciativa de conversar sobre minha família biológica”.

“Preciso saber a verdade sobre minha concepção, nascimento e historia familiar, não importa quão dolorosos possam ser os detalhes”.

“Acho que minha mãe biológica não me quis por que eu era um bebê ruim. Preciso que você me ajude a jogar fora essa vergonha tóxica”.

“Tenho medo que você me abandone”.

“Posso parecer mais íntegro do que sou na verdade. Preciso que você me ajude as revelar as partes de mim que mantenho escondidas para que eu possa integrar todos os elementos da minha identidade”.

“Preciso adquirir uma sensação de poder pessoal”.

“Por favor, não diga que eu pareço ou ajo igual a você. Preciso que você reconheça e valorize nossas diferenças”.

“Deixe-me ser eu mesmo... Mas não permita que me afaste de você”.

“Por favor, respeite minha privacidade em relação a minha adoção. Não conte as demais pessoas sem o meu consentimento”.

“Aniversários podem ser difíceis para mim”.

“Não poder conhecer todo o meu histórico medico pode ser uma fonte de tensão”.

“Tenho medo de ser difícil demais de lidar”.

“Quando eu expressar meus medos de maneira antipática, por favor fique do meu lado e reaja com sabedoria”.

“Mesmo que decida procurar minha família biológica, sempre vou querer que vocês sejam meus pais”.
_______________________________________________

“Um dos motivos pelos quais as crianças não falam sobre a condição de adotada e que a dor que acompanha a perda é difusa, sutil e difícil de colocar em palavras” (Eldridge, 2004).

Algumas particularidades acompanham crianças adotadas e essas particularidades devem ser respeitadas e trabalhadas com a criança, para que não só a criança, mas a relação entre ela e os pais adotivos se fortaleça e cresça saudável.

Não deixe que seus medos influenciem no direito que a criança tem de saber sobre sua origem e sobre o vínculo que tem com sua família adotiva. Para você pode ser difícil aceitar que a criança não tem vínculo biológico com tua família, mas isso não significa que para a criança isso também será difícil ou negativo. Se prepare, mude seus valores, trabalhe seus medos e preconceitos e fortaleça seu filho no intuito de perceber o quanto a relação de vocês é importante e valiosa. E lembre-se, não trate seu filho como “coitadinho”, o que ele precisa é de respeito.

26 de julho de 2006

Por Cintia Liana Reis de Silva


segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

adoção de crianças maiores na perspectiva dos pais adotivos (Parte 3)

Terceira e última parte do estudo científico.

Mandy Lynne

Vantagens da adoção de crianças maiores
No que se refere aos ganhos ou vantagens desse tipo de adoção, a praticidade por se tratar de uma criança maior e mais independente e não precisar dos cuidados básicos de um bebê, e o fato de não precisar fazer a revelação sobre a adoção, seriam as principais vantagens.

Sendo solteira, eu trabalho o dia todo, e ele, sendo maior, eu não tenho a necessidade de cuidar dele pequenininho, do básico (Entrevista 1).

[...] eu preferi adotar uma criança com idade... maiorzinho, porque trabalho sempre dá, mas dá menos aquele trabalho de fralda [...] era melhor pra mim[...] Dava trabalho, mas já andava, já... Não ficava muito no braço, porque a gente com essa idade já está com os ossos meio... Entendeu? [...] Tudo com ele foi mais prático, ele maior (Entrevista 3).
Outra vantagem que foi destacada diz respeito a não ter que se preocupar com a revelação da origem da criança, assunto que muito mobiliza pais e filhos. As entrevistadas 2 e 3 disseram, respectivamente:

[...] A adoção de uma criança mais velha tem uma grande vantagem, que é não ter o momento de contar [...]. É que ela já conhece a história dela [...].

Sugestões para outros adotantes de crianças mais velhas
Por fim, sobre as sugestões que eles poderiam dar a outras pessoas que desejam realizar o mesmo tipo de adoção, destacou-se o amor como elemento fundamental para uma adoção bem sucedida. Além disso, sugeriram: uma preparação prévia, como, por exemplo, um acompanhamento psicológico, freqüência aos grupos de apoio, leituras; a reavaliação dos próprios preconceitos; o fato de ter experiências prévias com crianças ou adolescentes; fazer previamente algum apadrinhamento e colocar limites desde o início. Dos quatro participantes, três recorreram à ajuda de psicólogos para si e/ou para os filhos. Apenas a participante dois, que é casada e já tinha experiência com a criação dos próprios filhos e de uma criança adotada ainda bebê, disse não ter procurado ajuda.

Solteira com crianças maiores tem que ter, assim, uma estrutura muito boa. Eu acho ideal para um casal pegar essas crianças maiores [...] E sonha muito com um pai [...] Eu acho que eu deveria ter me preparado mais para ele. Eu queria uma criança. Tudo bem, agora que eu tivesse um acompanhamento psicológico antes para eu tirar aquelas idéias românticas da cabeça, caí na real porque eu entrei na real sem ter tratamento nenhum, foi de choque (Entrevista 1).
Eu acho que vale a pena, sabe? Exceto pra quem vai adotar pela primeira vez e não tem filhos, eu acho que tem restrições. Agora se o casal é amadurecido, é um pessoal que tem vivências, não que tenha filhos, mas que tenha visto sobrinhos, que tenha vizinho novo, que sabe que aquilo é um comportamento natural [...] (Entrevista 2).
[...] eu acho que primeiro é baixar a guarda, tirar esse preconceito porque eu acho que existe uma série de preconceitos [...] (Entrevista 3).

[...] Primeiro seria apadrinhar [...] Depois do apadrinhamento com... com um bom tempo aí você vai saber quem é essa criança, de que forma você trabalharia essa criança [...] também não dar muita liberdade. Limites, logo de imediato (Entrevista 4).
Os participantes, com suas sugestões, corroboram o que vários autores assinalaram em relação ao cuidado que deve se ter em relação à adoção e, em especial, às adoções de crianças mais velhas (Andrei, D., 2001; Andrei, E., 2001; Dias, 2004, 2006; Schettini Filho, 1998; Vargas, 1998, 2001, 2006), ao preparo tanto dos pais quanto dos filhos. Levy (2005) acrescenta a necessidade de uma rede de apoio, especialmente para os que fizeram a adoção sozinhos e que precisam suprir todas as necessidade dos filhos. Dias (2004) pontua que o sucesso da adoção de crianças maiores depende de fatores como: aceitação da criança real e da sua história; respeito ao seu próprio ritmo; não exigir da criança mais do que ela pode dar; serenidade, paciência e equilíbrio, apoio dos familiares e amigos; busca de ajuda profissional e nos grupos de apoio onde os pais poderão conversar com outras famílias. Em suma, o sucesso dependerá muito mais dos pais na condução da adoção.

Considerações finais
Pode-se concluir que, apesar dos preconceitos vividos e de algumas dificuldades na adaptação das crianças adotados com mais idade, elas estão sendo bem sucedidas. O amor, a paciência, a compreensão e a maturidade afetiva dos pais para superarem as dificuldades, por um lado, e o desejo das crianças de pertencerem a uma família, por outro, foram alguns dos fatores responsáveis pelo sucesso dessas adoções. A ajuda profissional, como, por exemplo, o apoio psicológico e a busca por conhecimentos relacionados ao tema, também contribuiu. Vale salientar que a maioria freqüenta o grupo de apoio à adoção existente na cidade.


Sem dúvida, como foi referido por vários autores no decorrer do trabalho, trata-se de uma adoção que requer cuidados, porque a criança já traz a marca do abandono inicial e do tempo que permaneceu em instituições, especialmente com os adotantes sem nenhuma experiência com crianças. Isto não quer dizer que não sejam possíveis a superação e a adoção mútua, trazendo alegrias, capacidade de realização e comprometimento. É válido ressaltar também a multiplicidade de situações e de características pessoais dos pais e dos filhos que marcou cada adoção, de forma que não se pode generalizar. Cada família vai se adaptando  e criando seu próprio estilo e cultura.

Considera-se de fundamental importância avaliar os próprios preconceitos para que se possa ter uma sociedade mais humanizada e justa. É preciso também que o Estado, através de políticas públicas adequadas, e a sociedade civil, a partir de uma reeducação, se unam na luta contra a dura realidade das crianças institucionalizadas.

Cristina Maria de Souza Brito Dias
Professora e pesquisadora da Universidade Católica de Pernambuco. Coordenadora do laboratório Família e Interação Social. Rua Conselheiro Portela, 130 A, apto 201, 52020-030, Recife, PE.
cristina_britodias@yahoo.com.br
Ronara Veloso Bonifácio da Silva
Concluinte do curso de Psicologia e Bolsista PIBIC/UNICAP. Rua Nelson Castro e Silva, 117, Jardim São
Paulo, 50910-440, Recife, PE, Brasil. ronara_veloso@yahoo.com.br
Célia Maria Souto Maior de Souza Fonseca
Professora e pesquisadora da Universidade Católica de Pernambuco. Rua Edson Álvares, 211/102, Casa
Forte, 52061-450, Recife, PE, Brasil. celiasoutomaior@yahoo.com.br

Postado Por Cintia Liana

sábado, 24 de dezembro de 2011

adoção de crianças maiores na perspectiva dos pais adotivos (Parte 2)

Google Imagens

Dificuldades enfrentadas
Os preconceitos, a agressividade e a falta de limites, as dificuldades na escola e de aprendizagem, bem como os conflitos próprios da préadolescência foram destacados e dificultaram a convivência. A  dificuldade de relacionamento, por sua vez, prejudicou também as relações na escola e a aprendizagem.

[...] colégio, complicado. Da segunda à quarta série eu fui chamado acho que umas cem vezes, lá no colégio (Risos). [...] Fazia gracinhas, perturbava, não fazia as tarefas, mas estou na marcação (Entrevista 4).

Sobre as relações entre adotante e adotado. Ferreira (2003, p. 50) afirma: “Todos os envolvidos direta ou indiretamente nessa chegada da criança passam a viver um processo de adaptação, de ajustamento a uma novíssima situação”. Diante disso, é possível compreender que se trata de um processo em que as relações vão se estreitando aos poucos e passando pelas fases, conforme elencadas por Elena Andrei (2001), que  não do encantamento ao comprometimento amoroso.

A maior dificuldade foi nessa parte de educação e de ele ter um pouquinho de agressividade; ele não tinha respeito, se é mãe, se não é, ele queria bater em mim, e vinha para cima de mim. Tive que procurar psicólogo para me ajudar. Eu chorei muito, mas em nenhum momento eu pensei em devolver ou me arrependi (Entrevista 1).

Com relação ao comportamento agressivo, Weber (1998, p. 112) relata que “às vezes, essa criança pode ter tanto medo que em vez de mostrar amor, ela pode fazer tudo ao contrário, pois de maneira não consciente ela pensa: ‘eu vou ser abandonada novamente, então é melhor não gostar deles’. Portanto, segundo a referida autora, é preciso que os pais adotivos estejam preparados para lidar com “estas reações, até mesmo certa hostilidade inicial, e serem tolerantes em relação a novos hábitos, costumes e sistemas de valores que a criança traz consigo” (Weber, 1998, p. 112).

Reação dos familiares
Nesse aspecto, foi possível perceber que, de maneira geral, os familiares receberam bem a notícia, com exceção de alguns que não concordaram no início, mas depois aceitaram e passaram a conviver bem com a criança. Recortes de falas destacam bem o que foi vivido pelas participantes:

[...] A família do meu esposo aceitou de uma forma mais rápida, né? A notícia foi mais bem aceita. Mas a dos meus pais não. Houve um pouco de resistência, que era uma menina grande, já pensavam nesses problemas: ‘Que vem cheia disso, vem cheia daquilo. Como é que você vai fazer?’. Toda uma resistência. Hoje não, hoje passou o tempo, já acabou essa história [...] (Entrevista 2).

Todo mundo ele chamava de tio, de tia. A mim também, até que foi se acostumando. A família já tem casos de adoção, então aceitaram numa boa (Entrevista 3).

Dias (2006) refere que o preconceito muitas vezes parte da própria família e que a aceitação e o apoio dos amigos e familiares é essencial para o sucesso da adoção. Sendo assim, é necessário que a família extensa seja preparada. A autora pontuou também que a aceitação se dá aos poucos e que a existência de outras adoções facilita a aceitação.

Sentimentos experimentados
Os entrevistados destacaram o sentimento de felicidade por terem se realizado como pai/ mãe,  independentemente das características do filho e de alguma dificuldade de relacionamento. Salientaram ainda o sentimento de ser capaz de realizar algo.

Antes eu vivia aquela coisa egoísta, não tinha com quem dividir. Hoje eu me sinto mais capaz, responsável por outra pessoa. Apesar dos momentos difíceis que passamos, não tira a gratificação, a felicidade que eu tenho de estar com ele (Entrevista 1).

Eu me sinto normal, como mãe dele mesmo. Mas, às vezes, sinto-me cansada porque eu tenho que fazer tudo, não tenho empregada (Entrevista 3).

Apenas o entrevistado de número quatro disse que, apesar de estar cada vez mais se sentindo pai, às vezes se sente triste e desvalorizado por seu filho ainda não reconhecê-lo como pai, mas, mesmo assim, sente-se bem com ele. Vale salientar que esta adoção é recente e que ambos parecem estar ainda no processo de reconhecimento.

Hoje eu me sinto bem em estar com ele. Eu me preocupo com ele. Eu já me arrependi muito, mas hoje eu coloco ele em primeiro lugar (Entrevista 4).

Evolução dos filhos
Todos os entrevistados perceberam essa questão de forma bastante positiva. Eles disseram que várias transformações nos campos afetivo, cognitivo e social ocorreram na vida dos filhos depois da adoção.

Ele já evoluiu cem por cento [...] já está na quarta série, aprendeu a ler, já lê direitinho; na escola, apesar de não tirar notas boas, porque ele não estuda mesmo, ele evoluiu bastante na escola. Emocionalmente também. Ele já tem certeza que eu gosto dele, que ele não vai mais embora. Ele se sente mais seguro  hoje. Ele já bota para fora os sentimentos dele, nós conversamos muito. Esse momento de agressividade diminuiu muito [...] Ele é muito amoroso, apesar dessa agressividade, que é esporádica, ele é uma criança muito amorosa (Entrevista 1).

O que ela fazia era o normal, pra idade, né? E cresceu saudável, inteligente. Ela sempre foi uma menina muito inteligente, muito... assim, ela tem uma... talvez por experiência dela já ou mesmo que ela é uma pessoa que tem uma inteligência muito aguçada, ela tem 10 anos, mas tem comportamento de uma menina de 15, de 16 anos. Assim, tem uma certa maturidade, compreende exatamente o que você quer [...] (Entrevista 2).

A evolução foi boa, devagarinho, mas foi boa [...] Seis anos e pouco ele aprendeu a ler, a escrever, todo mundo até se admirou [...] Está fazendo pelo segundo ano a terceira série, era para estar na quarta série. Mas a evolução dele a psicóloga disse que é até boa, pra ele que não sabia nem falar com 3 anos. Mas agora ele está indo bem mesmo [...] (Entrevista 3).

No início foi complicado, era muito calado, houve rebeldia, regressão... muito ciúme de uma sobrinha minha, da mesma idade, e de dois afilhados que tenho... Hoje melhorou uns 60% (Entrevista 4).

Diante desses relatos, pôde-se constatar o quanto é importante para a criança que os pais a amem sem medo e que possam lhe oferecer um ambiente seguro. Segundo Weber (1998, p. 112), os pais devem “proporcionar oportunidades para a criança de expressar as suas dores e tristezas, ou até raiva e sentimentos de perda”.

Cristina Maria de Souza Brito Dias
Professora e pesquisadora da Universidade Católica de Pernambuco. Coordenadora do laboratório Família e Interação Social. Rua Conselheiro Portela, 130 A, apto 201, 52020-030, Recife, PE.
cristina_britodias@yahoo.com.br
Ronara Veloso Bonifácio da Silva
Concluinte do curso de Psicologia e Bolsista PIBIC/UNICAP. Rua Nelson Castro e Silva, 117, Jardim São Paulo, 50910-440, Recife, PE, Brasil. ronara_veloso@yahoo.com.br
Célia Maria Souto Maior de Souza Fonseca
Professora e pesquisadora da Universidade Católica de Pernambuco. Rua Edson Álvares, 211/102, Casa
Forte, 52061-450, Recife, PE, Brasil. celiasoutomaior@yahoo.com.br

Postado Por Cintia Liana

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

A adoção de crianças maiores na perspectiva dos pais adotivos (Parte 1)

Partes mais importantes e resultados de estudo científico.

Mandy Lynne

Título em Inglês:
Older children adoption from the perspective of the adoptive parents

Resumo
Esta pesquisa teve como objetivo investigar a adoção de crianças maiores porque é menos realizada pelos candidatos à adoção. Neste sentido, pretendeu-se compreender, junto aos adotantes, como percebem e vivenciam essa adoção. Foram realizadas quatro entrevistas, conduzidas de forma semidirigida e individual. Os resultados revelaram que a motivação dos pais adotivos esteve relacionada ao puro altruísmo e ao desejo de se realizar enquanto mãe/pai, como também à praticidade e desejo de companhia. Apesar do preconceito sofrido por causa do passado da criança e de algumas dificuldades adaptativas, pode-se concluir que, com amor e ajuda profissional, as adoções estão sendo bem-sucedidas.

Palavras-chave: adoções necessárias, preconceito, cultura de adoção.

Apresentação e discussão dos resultados

Motivações para a adoção
Através dos relatos dos quatro participantes, pôde-se observar que a motivação para a realização desse tipo de adoção foi devida, principalmente, ao puro altruísmo e ao desejo de se realizar enquanto mãe/pai, através de uma forma mais solidária de parentalidade. A praticidade e o desejo de ter uma companhia também se destacaram como fatores motivadores.

Dois entrevistados adotaram crianças que se encaixam no primeiro grupo referido por Elena Andrei (2001), enquanto dois adotaram crianças bem mais velhas, inseridos no grupo dois, por estarem sensibilizadas com a situação dos menores. Esses resultados reforçam as palavras de Schettini Filho (1998, p. 12), quando diz: “O desejo de adotar se explica das mais variadas formas que estão vinculadas à história e à necessidade do adotante [...] Enfim, as pessoas adotam filhos motivadas por circunstâncias físicas, sociais e emocionais”.

Recortes de algumas falas ilustram a motivação:
Eu já tinha vontade de adotar [...] os meninos são mais difíceis de serem adotados; e quanto mais velho, mais difícil [...] Eu procurei um menino que as pessoas não queriam mais adotar (Entrevista 1).

[... ] eu pretendia adotar uma novinha, mas... uma outra novinha... mas aí apareceu a criança, apareceu uma menina e que... eu a conheci e que teve certa dificuldade de encontrar uma família pra ela. Então, aquilo ali me sensibilizou muito [...] (Entrevista 4).

Essas falas confirmam os resultados de uma pesquisa realizada por Ebrahim (2001) que detectou que 51% dos adotantes tardios adotaram mais por se sensibilizarem com a situação de abandono das crianças.

A necessidade de companhia transpareceu na fala do único homem participante:
[...] eu procurei, assim, já uma criança que estivesse numa idade já elevada que pudesse também ser um torcedor do Sport e que juntos pudéssemos ir ao shopping, tudo o que tivesse lazer, certo? Participasse comigo até nas horas de alegrias e de tristezas (Entrevista 4).

Tempo de adaptação
Com relação ao tempo para a adaptação da criança, dependendo da forma como se deu a separação da família biológica, do tempo que passou no abrigo ou em situação de negligência ou de abandono, da ocorrência de outras separações e maltratos, a adaptação a uma nova família pode ficar mais lenta ou difícil (Vargas, 2006). No entanto, ela é possível, pois “o sentimento de família não é um instinto, mas sim uma construção resultante de uma íntima e sadia convivência” (Andrei, D., 2001, p. 93). O sucesso depende também da forma como os pais lidam com as dificuldades.

As respostas quanto a esse tema foram bem heterogêneas: uma relatou que a filha se adaptou muito bem desde o início (ela estava com 3 anos e meio de idade e passou por algumas famílias); uma disse que o filho foi se adaptando aos poucos (adotou um garoto com 3 anos que estava abrigado), e dois participantes disseram que os filhos ainda estão se adaptando (estes foram adotados com 9 e 10 anos e também estavam abrigados).

Foi horrível! No primeiro mês foi um menino maravilhoso; tomava banho todo dia, ia para escola todo dia sem reclamar; uma maravilha, um menino maravilhoso. No segundo mês, quando ele viu que não voltava mais, ele começou a ficar à vontade e aí ele começou, e até hoje, não quer escovar dente, só toma banho quando quer, para ir para escola é a maior dificuldade, às vezes passava dois, três dias sem ir. Hoje em dia é mais difícil ele não ir (Entrevista 1).

No início acho que foi bem complicado. [...] Pensei em colocar ele de volta, acho que num abrigo aí. Em qualquer lugar porque já estava cansando [...] Ainda está se adaptando, muito. De vez em quando tem uns problemazinhos. Quando eu penso que ele já está melhor, ele parece que dá uma regressão e começa a dar ‘nó cego’[...] A rebeldia dele, as ignorâncias [...] a brincadeira dele... quando está brincando é só porrada, mordida, empurra [...] Ele agora está bem melhor [...] (Entrevista 4).

O conteúdo destas respostas ressalta o que Vargas (1998) afirmou, baseada em um estudo realizado sobre adaptação de crianças adotadas, no qual observou que, dentre os vários comportamentos que essas crianças podem apresentar, destacam-se os comportamentos regressivo e agressivo. Outro autor complementa: “quando os requisitos básicos da liberdade e da privacidade faltam, e é justamente isso o que acontece nas Instituições, planta-se sem querer as sementes da revolta e da rebeldia, que brotarão na primeira oportunidade” (Andrei, D., 2001, p. 94). Por outro lado, é válido destacar que alguns comportamentos elencados pelos pais (rebeldia, dificuldade com higiene pessoal e escolaridade) fazem parte da fase pré-adolescente em que essas crianças se encontram, não sendo especificidade apenas da adoção.

Em compensação, outra participante fala da facilidade com que a filha se adaptou:
A adaptação dela foi rápida. Acho que em uma hora (risos). Já falava ‘mainha’, ‘painho’. Na verdade, ela estava muito carente, procurando uma família... (Entrevista 4).

Vale salientar que essa participante possuía experiência prévia de criação dos filhos biológicos e uma filha adotada ainda bebê, o que, certamente, lhe forneceu mais condições para lidar com a adoção de uma criança mais velha.

Cristina Maria de Souza Brito Dias
Ronara Veloso Bonifácio da Silva

Célia Maria Souto Maior de Souza Fonseca


Postado Por Cintia Liana

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

A menina que não quis ser adotada

Este texto foi escrito por uma jovem que, quando mais nova, atendi algumas vezes quando era perita de uma Vara da infância e juventude no Brasil. Ela me pediu que o publicasse. Talvez na tentativa de achar a sua mãe.
Observem a fidelidade e aliança que ela tem com a figura materna. Ela, de fato, nunca aceitaria a adoção.
É o outro lado, para a gente ver como funciona.
A partir do terceiro parágrafo ela começa a contar a sua história de modo objetivo.
Eu fiz algumas correções ortográficas, mas não muitas para não descaracterizar o texto. Tirei todos os nomes próprios, incluisve dos abrigos onde ela passou e de lugares que pudessem identificá-la por outros, que não a própria mãe.
Boa leitura. Para a gente fica a reflexão e o respeito por esta jovem, que decidiu doar a vida a procura da mãe perdida, que nunca se despediu dela.
We heart it

Viva a Vida
Sei que a partir do momento que você posta algo sobre você, algo pessoal, esse algo sobre você, fica exposto para que todos vejam mais eu decidi me abrir com o mundo passar um pouco do que vivi através das palavras, mas não julguem estamos aptos a erros, passados e lembranças, afinal a vida muda a cada minuto... Falamos tanto em status e não nos preocupamos com o  necessário, aquilo que construímos de nós mesmo, definir é o que tempo faz com cada um de nós, porém se basear no que a mídia quer que você seja é uma forma de plagiar o que quer ser e não o que realmente se é, porém não me encaixo nesse padrão plagiar, para  a maioria é tão simples julgar quando na verdade não se sabe o que se passa dentro de cada mente, de cada ser e cada vivência.
Na vida aprendemos que nada é como queremos, porém toda experiência é um aprendizado único da qual partilharemos e aprenderemos que nada se julga antes mesmo de ser conhecido, pois todo obstáculo contém uma enorme quantidade de aprendizado, onde nada se perde e tudo se aprende!
Tudo começou quando minha mãe se envolveu com pessoas erradas, tal amiga dela, que dizia ser amiga, mas quando estávamos em casa essa que se dizia SER amiga tentou matá-la, mas minha única sorte é que eu estava dormindo e minha mãe estava acordada, só que quando ela ouviu chiados e olhou pela brecha da janela, ela viu a tal amiga armada descendo com dois rapazes para matá-la, então se pôs embaixo da cama e rezou para que jamais a encontrasse, arrombaram a porta, mas por algo forte não acordei, não sei pela graça de quem... E minha mãe debaixo da cama desesperada, orando para que nada me acontecesse, eles haviam pensado que ela havia saído e me deixado em casa trancada... Apenas olharam e saíram, pois naquela época eu era pequena, quando saíram minha mãe desesperada enrolou de uma ladeira abaixo atrás de ajuda, mais a única que pôde nos ajudar era uma vizinha, que via meus prantos de medo e aflição... Aprendemos que nada na vida é em vão, de tudo se obtém um aprendizado!

Então minha mãe decidiu viajar sem permissão dos meus familiares para um lugar chamado Salvador (Bahia), como era pequena não podia recusar pensava em apenas estar com ela, pois a amava e a amo. Digito isso com lágrimas nos olhos que a cada palavra me fazem derramar o que sinto. Viajamos de carona ela com malas na mão e correndo risco com apenas uma criança que jamais sabia para onde estava indo, por muitas vezes tive que dormir na rua, até que então cheguei a Bahia, em Salvador, ou seja, no 2 de Julho, onde minha mãe passou a usar químicas e a se prostitui devido a falta de grana, e ela me tratava com muito amor e carinho apesar disso, mas como ela trabalhava a noite ela me deixava com alguém, mas que também se metia em muitas confusões, que por várias vezes vi minha mãe ser agredida por homens onde nada pude fazer, mas haviam coisas como as drogas que tornavam minha mãe uma pessoa agressiva e violenta, ela me batia quando estava sob efeito.. até que um dia eu fugi de casa, fui pra rodoviária, com o intuito de voltar para Recife para onde estavam meus dois irmão e minha família, mas foi quando o Juizado me pegou e minha mãe que nem uma desesperada a minha procura sem saber onde estava, foi que me puseram no abrigo para menores chamado (...).
E muitos diziam que minha mãe voltaria para me buscar, mas sempre me pus a esperar e nada, e nesse abrigo entrei com 9 anos de idade fiquei nele por anos à esperar e nada de minha mãe aparecer, até que me puseram para adoção, só que não fiquei, pois a única coisa a ficar em minha mente era voltar para minha mãe, fui para muitos psicólogos e os anos iam se passando quando tentaram me adotar mais uma vez e aí embarquei só que não fiquei pois ainda me perturbava o fato de que se minha mãe for no Juizado me procurar, eu estando adotada, ela jamais me encontraria, então fui para um outro abrigo, ou seja, orfanato para meninas, só que de freira a (...), onde fiquei com 15 anos de idade. Fugi e me pegaram, mas me puseram em outro abrigo (...), mas dessa vez fugi e jamais conseguiram me encontrar, porém o tempo me mostrou que não existe impossibilidade quando se tem um sonho e quando lutamos por ele, foi o que ocorreu ao me levar para perto da pessoa mais íntima de minha mãe biológica, mas logo em seguida soube da parte dela que minha mãe havia sumido, mas acredito que o tempo é sábio e esperar é um dom que Deus me permitiu possuir e, às vezes, o medo de me deparar com uma realidade cruel me domina, é algo que vai além de qualquer crença, porém explicar ainda é complexo, fugir pra tentar construir uma vida e procurar minha  mãe.
Encontrei meu ex-marido que me ajudou e me ensinou o que é a vida, passei fome, fui humilhada, fiquei como uma andarilha na casa de um e outro, mas meu único refúgio era (...) onde aprendi que pra ser feliz não precisa de dinheiro, que a felicidade se manifesta nas pequenas coisas que Deus nos oferece, não por querer, porém aprendi a encarar as coisas como aprendizado, porém evitar os erros ainda é inevitável, mais por falta de opção, mas minha vida hoje, digo de minha infância pra cá, foram e está sendo o maior inferno, pois não tenho conseguido superar mais nada, pois minha vida está parada, pois meus documentos estão na mão do Ministério Público, onde ele dará apenas a um namorado meu, só que de maior.
Tenho tentado esconder mas em meu rosto demonstra o rosto de cansado e um olhar amargurado, muitas pessoas podem me olhar com olhar criticado, mas se tem uma coisa a qual busco são objetivos que venho tentando encontrar! OU SEJA, MÃE, ONDE VOCÊ ESTÁ?!

É na caminhada do fracasso que aprendemos a valorizar pequenas conquistas e que conhecimento não se adquire do nada, é necessário passar primeiro pela linha do fracasso para se obter conhecimento, saberia não se dá, se conquista!
Voltei ao abrigo onde convivi por um longo tempo, revi pessoas e ouvir negatividades da parte das pessoas. Se você não acredita em si mesmo as pessoas nunca poderão acreditar, escolher entre o sucesso e o fracasso, optaria pelo fracasso, pois é com ele que você aprende a valorizar as pequenas vitórias que a vida te dá, e aprende que sorrisos às vezes vem de pessoas que não nos querem bem, por trás de sorrisos pode haver maldades.
Devemos encarar as circunstâncias como pequenos passos para um futuro brilhante, nenhum vencedor chega ao ponto de chegada sem antes ter passado pela linha do fracasso, somos seres em busca de horizontes, experiências e aprendizado, e chorar não é admitir o fracasso, mas ter a coragem de abrir com os olhos o que o coração não pode dizer com as palavras, e amar o próximo deve estar além de qualquer circunstância, por mais magoada(o) que você fique e por mais que as pessoas machuquem, por que deixar de amar é como deixar de existir, e na caminhada percorrida as pessoas nunca vão admitir nossas qualidades, elas sempre observarão nosso defeitos e apontarão sempre nossos erros, e aprenda a ser sempre você sem diminuir os outros, pois da mesma forma que se pode estar por cima, pode estar por baixo, a vida é um jogo da qual as coisas planejadas nunca saem conforme dito, a vida sempre dá um jeito de nos surpreender, e saudades deixam aqueles que partem sem se despedir, e partir sem dizer adeus é uma forma de deixar um até logo.
As circunstâncias foram longas e os obstáculos cada vez maiores, me impulsionando á desistência, e a dor dentro de mim passou a ser maior, então optei pelo ato mutilátorio (cortes), que para muitos foram atos de tolice, sem questionar o que havia por trás de tal ato, somos seres questionadores em busca de soluções óbvias acerca da vida, erramos e aprendemos com isso, mas as pessoas que nos cercam nos condenam como feito erro eterno, as pessoas julgam as outras se olhando no reflexo do próprio espelho, definição é o que na verdade não temos acerca de nós mesmo, nos destruímos, cigarros, bebidas, drogas é o que nos faz parecer diante daquele que tachamos como tolo.
Foram tentativas, medo, ódio e ao mesmo tempo amor e desejo em busca de um futuro incerto, você nunca saberá se não tentar, mas em meio aos caminhos tortuosos encontrei pessoas que se puseram a me ajudar, e pela minha criatividade de escrita muitos foram os que duvidaram do que passei, mas tenho certeza que minha vida não se baseia nas dúvidas das pessoas, mas no aprendizado, aprendi a reconhecer a grandiosidade de Deus nas pequenas coisas acrescentadas a mim, e ao contrário do ano 2010, meu 2011 está sendo repletos de conquistas, aprendizados e pessoas que durante toda á minha trajetória nunca me deixaram de lado e sempre me aceitaram da forma que sou, enquanto a sociedade julga-me pela aparência os verdadeiros me julgam  pelo que sou, porém somos quem quisermos ser!
Aprendemos que não se pode mudar  o passado, porém o  presente existe para se fazer diferença!

E na caminhada sempre há experiências que deixa cicatrizes, uma ferida nunca sara sem deixar pequenas cicatrizes assim são as experiências o tempo não é capaz de curar apenas ameniza, mas deixam aprendizado, assim como a sabedoria que não se compra, mas se adquire ao logo do tempo, dando a cada um de nós um pouco de maturidade e por muitas vezes por escolha optei por estar só, tentei esconder de muitas pessoas quem sou por causa de muitos medos, mas devemos ser nós mesmos sem nos mascarar por que por mais que o tempo demore as máscaras sempre caem!
(O nome da autora é protegido)

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Atitude adotiva

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Por Sávio Bittencourt

Uma Campanha pela Adoção sempre deve começar pela ATITUDE ADOTIVA.
Toda pessoa pode colaborar com a divulgação da nova cultura da adoção, para que este gênero de filiação possa ser entendido pela sociedade como realmente é: um encontro de amor, terno e eterno, que se destina a formação de um vínculo de paternidade ou maternidade responsável.


Mesmo que uma pessoa não se sinta apto ou não deseje adotar uma criança, sua participação nesta causa é valiosa: pode ajudar a vencer preconceitos, reverter abandonos, educar a juventude e dialogar com as autoridades. Todo tipo de colaboração é bem-vinda. Você pode:

- Apadrinhar afetivamente uma criança institucionalizada, visitando-a, dando a ela um pouco de afeto;
- Ser voluntário numa instituição de acolhimento (abrigo), de acordo com sua aptidão e tempo disponível;
- Criar ou apoiar um grupo de apoio à adoção, promovendo reuniões sobre o tema, para preparar de pais adotivos bem informados e, dialogar com o Ministério Público, a Magistratura e as equipes técnicas para encontrar soluções para as crianças sem família;
- Ser família acolhedora de crianças em situação de risco social;
- Realizando debates, palestras e eventos nas escolas, igrejas, universidades e nos meios de comunicação sobre o tema, divulgando a adoção como uma forma segura de colocação de crianças em família;
- Se informar sobre a adoção em seus aspectos legais para poder aconselhar os que desejam descumprir a lei e se expor ao risco de uma "adoção ilegal".
- Vestir a camisa da adoção, usar um boton ou adesivo para que a sociedade se acostume a ver o nome adoção, deixando de ser tema de segredo familiar e possa ser celebrada como uma encontro de almas;
- Visitar um abrigo para tomar conhecimento da existência de crianças que não vivem em família e descobrir a razão pela qual elas não retornam a suas famílias, nem são dirigidas a outras;
- Dizer ao seu filho, ainda que ele seja apenas biológico, que o ama muito e, desta forma, adotá-lo hoje mesmo;
- Realizar campanhas periódicas para tratar do tema, concursos em colégios para frases ou redações sobre adoção, ir ao abrigo promover um torneio de futebol, uma peça de teatro, uma festa de natal.
- Você pode, inclusive, ser pai ou mãe por adoção e descobrir um tipo de amor diferente e contundente, que pode transformar sua vida e mostrar que todos nós podemos viver amores sem fim e sem tipologias impostas. Amor e liberdade.

FAÇA UMA CAMPANHA NA SUA CIDADE
Você pode romper a passividade e ser um agente de transformação amorosa do mundo, com atitudes bem simples e ao seu alcance. Um grupo de amigos, os companheiros de um futebol e os irmãos de uma igreja podem ser motivados para esta luta: dar a cada criança uma família, seja a sua de origem, seja a adotiva, qualquer uma das duas, desde que amorosa. Há muitos fazeres. Escolha sua missão.

PARA PENSAR:
"DEUS NOS DEU SABEDORIA PARA DESCOBRIR O CERTO, VONTADE PARA ESCOLHÊ-LO E FORÇA PARA FAZÊ-LO DURAR"
REI ARTHUR, NO FILME LANCELOT.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Deficit di Accudimento


Deficit di accudimento (em italiano). Uma criança que chora no berço precisa ser ouvida e que validem o seu "pedido de socorro", caso contrário crescerá com a sensação de não ter sido acudida o suficiente. Quando grande não acreditará que é capaz de pedir socorro, de ser ouvida, de ser respeitada. Pequenos detalhes que constituem a nossa psiquê adulta e determinam os nossos comportamentos.

Por Cintia Liana

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Adotar: um gesto de amor

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Matéria do Portal Viral com a participação da psicóloga Cintia Liana Reis de Silva

Conheça o passo a passo da adoção, que permite que crianças e adultos realizem o sonho de construir uma família.

Adotar é assumir voluntariamente os direitos e deveres parentais sobre uma criança ou um adolescente, que passa a ser, então, seu filho legítimo. É, acima de tudo, uma atitude de amor. Mas para que tenha validade, é preciso legalizá-la mediante um procedimento jurídico.

Segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), cerca de 578 crianças foram adotadas no Brasil desde 2008. Ainda assim, de acordo com o Cadastro Nacional de Adoção (CNA), aproximadamente 4.760 aguardam um novo lar e mais de 27.200 pessoas querem adotar. A pergunta é: se há tantos interessados, por que dizem que o processo de adoção é demorado? “O procedimento é rápido, mas grande parte dos casais quer adotar uma menina, branca, de 0 até 4 anos de idade. Essa preferência dificulta e retarda o processo, já que as crianças dos abrigos são, na sua maioria, meninos e pardos. E mais da metade está acima dos 6 anos de idade”, conta Lucianne Scheidt, socióloga do Projeto Afeto que Transforma.

Mais simples do que se imagina
O interessado deve se inscrever perante o Juízo da Infância e Juventude do seu domicílio, fornecendo os documentos solicitados e autorizando a realização de visitas técnicas em sua residência. “Nesse período, ocorrem entrevistas com um psicólogo e um assistente social, que avaliam a condição socioeconômica dos pretendentes, assim como a sua estabilidade conjugal e o seu equilíbrio psicológico”, salienta o advogado Munir Cury. Desde a implementação da Lei da Adoção (Lei n. 12.010, de 03.08.2009), exige-se que o interessado em adotar uma criança participe de reuniões que o orientem e preparem para a chegada do novo membro à família.

As exigências para quem adota
Quem deseja adotar deve ter mais de 18 anos e, pelo menos, 16 anos a mais do que a criança a ser adotada, independentemente do estado civil. “Mas, no caso de ser casado ou viver em concubinato, a solicitação deve ser feita por ambos. Em relação aos casais homossexuais, a autorização fica a critério do juiz responsável pelo processo. Atualmente, grande parte dos magistrados concede a adoção nesses casos”, explica o advogado.

Adaptação tranquila e feliz
“Durante o período de convivência — antes de formalizar a adoção —, os encontros ocorrem no abrigo onde a criança mora. À medida que ela fica mais confiante, os futuros pais podem levá-la para passeios”, conta Ana Lucia Cavalcante, psicóloga do Projeto Afeto que Transforma.
E para que a adaptação na nova casa ocorra com tranquilidade, os pais adotivos devem transmitir segurança à criança. “Eles precisam agir com naturalidade, fazendo com que ela se sinta amada e acolhida”, explica Cintia Liana, psicóloga especialista em adoção.

O empresário Antonio Macedo, de 32 anos, relata um pouco da sua experiência: “O Pedro chegou em casa há um ano, quando tinha 6 anos de idade. Eu e a Carla, minha esposa, estávamos ansiosos, queríamos agradá-lo de todas as formas; afinal, era a realização do nosso grande sonho. Até que percebemos que ele estava assustado e intimidado com o nosso comportamento. Aos poucos, relaxamos e passamos a agir realmente como pais. Hoje, brincamos, rimos, mas também damos bronca, olhamos a lição de casa, mandamos escovar os dentes... Nós amamos o Pedro exatamente como se ele fosse nosso filho biológico”.



Postado Por Cintia Liana

domingo, 4 de dezembro de 2011

Orientação na construção dos vínculos na adoção e as mudanças da família

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Essa semana me emocionei muito com um dos casais que estou orientando no processo de adoção, aproximação e criação de vínculos de apego com as filhas que estão sendo adotadas.

Sabem aquelas pessoas dedicadas, amorosas e conscientes, que querem aprender? Então, é maravilhoso quando nos deparamos com pessoas assim, ávidas por aprender, por enxergar os mistérios das relações e melhorar a própria vida. Eles ficam tão felizes com cada descoberta e resposta das filhas... É maravilhoso testemunhar isso.

Orientar pessoas na adoção e no processo de reconhecimento familiar, mesmo que biológico, é mágico, porque se aprende a enxergar nas entrelinhas, se vê mudanças belas e como o ser humano é capaz de transformar sua realidade.

Muitas pessoas experimentam certas dificuldades na aproximação dos filhos, mas após serem devidamente orientadas e com suas dúvidas e receios trabalhados é fantástico ver a mudança e a evolução das crianças que emitem imediatamente respostas após a mudança de postura e sentimento dos novos pais.

Uma dica que posso dar a vocês leitores, é algo sobre esta experiência.

O casal estava visitando as crianças, mas elas não conseguiam se vincular ao ponto de expressarem e desenvolverem muita confiança e intimidade afetiva. Quando começaram o processo de orientação comigo no Skype fiz algumas perguntas e introduzi mudanças nas falas, posturas e resgate de objetivos na construção dos vínculos.

Algo que me chamou a atenção é que o casal não havia dito ainda os motivos das visitas. Para as crianças não estava claro e, como quase nunca elas perguntam, nem têm maturidade para elaborar essas questões, só resta a ponta de insegurança na companhia de pessoas que elas não sabem exatamente porque estão alí.

Elas sabem que são amigos, mas amigos elas já têm, inclusive no abrigo, amigos muito mais próximos, o que elas querem é pais, pessoas que elas sintam que possam estabelecer novo vínculo e que não as abandonarão, que estão dispostas a fazerem tudo por elas. E foi isso que orientei. Eles serem claros, em primeiro lugar, sobre o objetivo das visitas no decorrer das brincadeiras e conversas. De um dia para o outro, literalmente, tudo mudou como mágica, mas sabemos que não foi mágica, foi clarificar o que estava acontecendo e fazer elas entenderem que eles a queriam como filhas, que aquilo que estava sendo construído entre eles não correria  o risco de ser rompido e eles foram provando isso a elas no decorrer dos encontros no abrigo.

Alguns dias se passaram e as meninas já os chamaram de pai e mãe, agora estão em um outro estágio muito mais avançado. O que não haviam feito em 25 dias, conseguiram em 5.

A menor, que não falava quase nehuma palavra e não sorria, em menos de um mês já começou a falar, a sorrir livremente e a cantarolar. A maior, que tinha vários medos, começa a se sentir mais segura na companhia dos adotantes.

Depois o casal começou a tomar florais e vieram outras tantas mudanças no olhar e na sensibilidade em conduzir as situações, ver com clareza o momento de cada um e até tomar iniciativas criativas para envolver pessoas no processo adotivo da família, com mais certeza de que esta decisão, este projeto de amor, comporta agregar.

Penso que muitas pessoas alimentam dúvidas, mas não têm a ocasião ou a quem pedir ajuda, conselhos, alguém experiente, profissional para dar um toque e fazer tudo mudar. Enteder mais sobre desenvolvimento, o sentimento da criança, as causas de cada situação, sobre educação, como elas veem o mundo... Detalhes que fortalecem os pais para estarem mais firmes e darem maior suporte aos filhos.

É algo impressionante como a criança muda só ao ver a transformação de quem está diante dela, quando entendem o que acontece, quando se situam e quando são respeitadas. Nós psicólogos sabemos que esse é um conceito claro da psicologia sistêmica, que envolve qualquer pessoa, mas ver essa mudança no nascimento da família é muito bonito, é a esperança clara de que nós, seres humanos, somos capazes de operar milagres através de conhecimento e do amor.

Por Cintia Liana

sábado, 3 de dezembro de 2011

Atividade no Skype para adoção internacional

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Quarta-feira coordenei no skype, junto com uma assitente social de uma CEJA no Brasil, o primeiro encontro de dois casais com seus futuros filhos. Um casal adotará uma criança e o outro as outras duas, são irmãos biológicos e crescerão juntos na mesma cidade na Itália, com "plano de vida juntos" e os casais se tornaram amigos.

As CEJA's de cada Estado no Brasil trabalham de modos diferentes como já coloquei aqui no blog em desabafo, o que dificulta o trabalho das associações internacionais, que tem que se cadastrar naquele Estado e procurar entender mais um tipo de procedimento totalmente diferente e operar em todo o território nacional desvendando cada forma e trabalhando com cada Estado do modo que é exigido.

Algumas CEJA's fazem um trabalho de referência, com muita responsabilidade e sobretudo com muito respeito à criança que está sendo adotada. O trabalho de preparação é rigoroso, nós da associação respeitamos todos os trâmites e observamos o modo ético com que trabalham.

Essa experiência que comecei a falar no primeiro parágrafo me comoveu, porque foi a primeira vez que estas famílias se viram pela web can e se falaram, que cada um ouvia a voz do outro, dos filhos, dos pais. Até então só haviam trocado cartas, desenhos, fotos, presentes de valor efetivo e respondido a perguntas escritas.
O encontro havia sido marcado uma semana antes, nos preparamos no escritório da entidade e cada casal falou um pouco sobre questões feitas pelos profissionais da CEJA no Brasil, depois puderam falar com as crianças e ao fim puderam ser orientados sobre os procedimentos que serão adotados no Brasil, quando forem iniciar o estágio de convivência daqui a poucos dias. Na atividade fui mediadora e tradutora.

Certa de que as crianças agora preencheram lacunas de dúvidas sobre os futuros pais e baixaram um pouco a ansiedade, penso que o primeiro encontro pessoalmente será muito mais tranquilo, assim como para os adotantes, que estavam emocionados e ansiosos.

Eu já até prognostico as novas dinamicas familiares, pelo que pude ver na atividade do skype. Fiz um retrato do futuro funcionamente do inconsciente das famíliaa e creio que dará muito certo, cada uma do seu jeito. Muito interessante.

Feliz com o belo trabalho desta CEJA. E quem ganha somos todos nós, a segurança de fazer um trabalho digno, seguro e que em primeiro lugar respeita o tempo das crianças.

Cheguei em casa com sensação de mais uma missão cumprida.

Por Cintia Liana

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Amar e odiar se aprende

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"Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, ou por sua origem, ou sua religião.
Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se elas aprendem a odiar, podem ser ensinadas a amar, pois o amor chega mais naturalmente ao coração humano do que o seu oposto.
A bondade humana é uma chama que pode ser oculta, jamais extinta". 
(Nelson Mandela)

Postado Por Cintia Liana