"Uma criança é como o cristal e como a cera. Qualquer choque, por mais brando, a abala e comove, e a faz vibrar de molécula em molécula, de átomo em átomo; e qualquer impressão, boa ou má, nela se grava de modo profundo e indelével." (Olavo Bilac)

"Un bambino è come il cristallo e come la cera. Qualsiasi shock, per quanto morbido sia
lo scuote e lo smuove, vibra di molecola in molecola, di atomo in atomo, e qualsiasi impressione,
buona o cattiva, si registra in lui in modo profondo e indelebile." (Olavo Bilac, giornalista e poeta brasiliano)

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Sete Histórias de Natal de Meninos e Meninas Carentes


Foto: Google Imagens

Revista Veja São Paulo

Existem na cidade de São Paulo muitos abrigos destinados a cuidar de crianças que, por algum motivo, não têm um ambiente familiar que as acolha. Já não se usa mais a palavra orfanato para definir esses lugares, pois o que produz menores carentes não é somente a morte dos pais, mas também outros dramas, como o abandono, a miséria, os maus-tratos. Desde 1990, quando foi promulgado o Estatuto da Criança e do Adolescente, as entidades sérias dedicadas a esse tipo de proteção mudaram de nome e de objetivos. Deixaram de ser depósitos de rejeitados para tentar mudar o destino dos internos, seja encontrando pais adotivos, seja promovendo seu retorno à família original. Passaram a dar-lhes, enfim, o direito de ter esperança num futuro melhor. É por isso que, apesar das agruras, meninos e meninas nessa situação ainda encontram motivos para sorrir — especialmente na época do Natal, quando o espírito solidário motiva a chegada de presentes, visitas e festas preparadas só para eles.

Ricardo, Keila, Alaíde, Marcio, Jaqueline, Angélica e Fernando, que você conhecerá melhor nas próximas páginas, expressam bem essa alegria. Há muitas formas de ajudá-los e aos milhares de pequenos que vivem nas centenas de abrigos na cidade. Em muitos casos, o melhor a fazer é cercá-los com o calor que só existe de verdade na relação entre pais e filhos. Nem sempre, porém, a adoção é possível. Algo que pode ser feito em favor de toda essa gente miúda são doações às entidades que cuidam deles.

Para conhecer algumas das mais sérias, basta consultar as relações existentes no site do projeto Bem Eficiente (http://www.melhores.com.br) ou falar com o Conselho Municipal da Criança e do Adolescente ( 225-9077, ramal 23 ou 24). Pode-se também apoiá-las como voluntário (cadastrando-se pelo site http://www.voluntarios.com.br) ou até ficar com um dos abrigados em casa na época do Natal. Se nada disso estiver a seu alcance, agende uma visita à entidade. Não custa nada e vale muito. Toda criança adora ver que alguém pensou nela.

Com reportagem de Anna Paula Buchalla, Gabriel Pillar Grossi, Gabriela Erbetta, Iracy Paulina e Viviane Kulczynski.


Seguem 7 histórias reais, uma por postagem.


História 1

"Quero um trem, um boneco, reportagem de capa uma mãe e um irmão" – Ricardo

Saber quem é o velhinho que traz os presentes no dia de Natal não é a única curiosidade que Ricardo Martins expressa no olhar. Há muitas outras, entre as quais descobrir algum detalhe sobre o próprio passado. Acometido de uma espécie de amnésia, ele não se lembra da família nem sabe dizer quanto tempo esteve abandonado nas ruas da cidade. Perambulava pelo centro, em meados do ano passado, quando foi recolhido, levado a uma unidade da Febem e encaminhado ao abrigo do Movimento de Apoio à Integração Social, Mais. Desde então tem recebido o cuidado da entidade e de seus 120 voluntários, encarregados de dar a melhor vida possível às oitenta crianças que aguardam um destino — seja a adoção, seja o retorno à família de origem. Segundo exames médicos, Ricardo tem por volta de 7 anos.

Sentado junto do pinheirinho enfeitado no saguão, ele fala sobre o Natal do ano passado, o único que ficou gravado em sua memória. "Papai Noel chegou de helicóptero e distribuiu presentes para todos", conta. "Ele mora longe, precisa vir voando."

Fã de Ronaldinho e dos personagens de desenho animado Rei Leão e Hércules, o garoto procura imitar um pouco de cada um. Cortou o cabelo bem curto, como o craque. Adora a natureza, como o leãozinho dos estúdios Disney. De Hércules, copiou a coragem. "Nunca tive medo de nada, nem quando dormia em casa abandonada", diz.

Matriculado no pré-primário, descobriu a magia do lápis e do giz de cera. Vive desenhando. Já rabisca algumas letras e exibe orgulhoso, num pedaço de papel, as iniciais de seu nome. Ainda não consegue escrever uma lista de presentes. "Não precisa, né?", conclui. "Papai Noel sabe que eu quero um trem de plástico, um boneco, uma mãe e um irmão", pede. "Se não der, tudo bem, já ganhei uma bola mesmo."

Publicação - Revista Veja São Paulo
Circulação - São Paulo – SP
Data - 23/12/98
Edição – 1578
Assunto - Abandono – Institucionalização
Título - Sete Histórias de Natal de Meninos e Meninas Carentes
Autora - Mirian Scavone


Postado Por Cintia Liana

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