"Uma criança é como o cristal e como a cera. Qualquer choque, por mais brando, a abala e comove, e a faz vibrar de molécula em molécula, de átomo em átomo; e qualquer impressão, boa ou má, nela se grava de modo profundo e indelével." (Olavo Bilac)

"Un bambino è come il cristallo e come la cera. Qualsiasi shock, per quanto morbido sia
lo scuote e lo smuove, vibra di molecola in molecola, di atomo in atomo, e qualsiasi impressione,
buona o cattiva, si registra in lui in modo profondo e indelebile." (Olavo Bilac, giornalista e poeta brasiliano)

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Falando sobre a Adoção, os Motivos e o Abandono

Imagem: Google

Em atendimentos realizados em meu consultório ou realizados há algum tempo na Vara da Infância com jovens ou crianças adotadas observava que esses, quando sabiam que eram adotados juntamente com a informação da infertilidade dos pais, apresentavam as seguintes questões:
1. Fantasia de que, mesmo antes de nascer, mataram o filho do casal na barriga ou que eles eram os culpados pela infertilidade ou problema da mãe;
2. Acreditam que foram adotados pelos pais, por estes não terem tido outra opção de ter filhos.

Não é necessário falar que adotou porque não pôde ter um "filho da barriga". Já li alguns textos sobre esse mesmo assunto e lembro a vocês que, inicialmente, seria importante que o filho soubesse que é adotado e que foi uma escolha do casal, um projeto de vida assumido pela família, independente da infertilidade, que pode ser revelada mais tarde, quando a criança estiver mais madura.

Cuidado também ao falar sobre os possíveis motivos que levaram a mãe de origem a "abandonar" seu filho. Se colcar a responsabilidade na falta de dinheiro por, exemplo, isso pode comprometer a relação que teu filho terá com o dinheiro, afinal "ele foi o culpado pelo abandono". Sempre que você se queixar de falta de dinheiro ele poderá ficar com muita ansiedade gerada pelo medo de ser abandonado novamente. Imagina? Gente, cabeça de ser humano é muito complexa e as relações feitas por nós nem nós mesmos muitas vezes  somos capazes de alcançar e nem acerditar que imaginamos aquilo. Outro motivo é não haver a necessidade de se falar algo que não se sabe, então é melhor dizer que não sabe ao certo.

"A tranquildade de falar sobre a adoção nasce da capacidade de se desapegar das próprias crenças e medos, porque a criança está pronta para saber sobre os laços que a unem a família adotiva. Está pronta para a verdade. No fundo, ela já sabe de tudo."

Cintia Liana


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Este estudo explica e reafirma algumas falas minhas no post anteriror sobre "O Segredo na Adoção".

Foto: Google Imagens


A avaliação psicossocial no contexto da adoção: vivências das famílias adotantes

Liana Fortunato CostaI e Niva Maria Vasques Campos
Universidade Católica de Brasília e Universidade de Brasília
Serviço Psicossocial Forense do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios

Uma parte do estudo de Liana e Niva:

A importância da verdade
Na continuidade de um dos diálogos sobre a semelhança física entre adotante e adotado, as famílias apontam para a importância da criança crescer sabendo a verdade, sabendo que foi adotada. "É fundamental que a criança saiba desde pequena, que é uma criança adotada, justamente, para não ter choque". Apesar de ressaltar a importância do tema, as falas indicam que esta não é uma tarefa fácil, percebe-se que há um receio, um temor de que cedo ou tarde algum problema venha a acontecer.

Eu soube de uma história de uma moça que depois de 20 anos se revoltou, ficou sabendo e se revoltou contra a família toda. E foi um drama. Então essas coisas acontecem de verdade. E é mais fácil você encobrir o problema, mas e lá na frente?

Durante este diálogo, o esposo ressaltou: "Na adoção quanto mais certinho você fizer menos problemas você vai ter". Esta última fala parece ainda revelar o estigma do adotado e da adoção que de algum modo sempre dá problema.

O diálogo das famílias nos levou a pensar que talvez se revele a verdade mais por medo de que algo saia errado, do que por acreditar ser um direito da criança conhecer sua história de origem. Neste aspecto, é ressaltado também o caráter orientador dos estudos psicossociais, no tocante a revelação da adoção: "por isso que entra o papel da equipe de adoção, acho que eles têm obrigação de tentar evitar o máximo que o casal venha a ter problema no futuro".

As famílias trouxeram exemplos da vida real em que pais adotivos esconderam dos filhos a verdade e isto acarretou prejuízos graves às relações familiares, à confiança entre pais e filhos e a todos os envolvidos. Embora ambas as famílias tenham contado aos filhos que estes eram adotivos, uma fala indica a existência de fantasias parentais relativas aos laços de sangue que poderiam ser mais fortes e ameaçar os pais adotivos de serem trocados pelos pais biológicos: "a gente corre o risco de eles quererem conhecer os pais biológicos". Schettini (1998a) aponta a dificuldade de muitos pais adotivos enfrentarem o problema da revelação da origem, que vai sendo postergado indefinidamente. O autor alerta que comunicamos não somente através das palavras, mas também através da linguagem corporal e do inconsciente.


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Esse "comunicar" que Schettini fala é o segredo vindo a tona há todo instante. O peso dele que existe e incomoda.
É preciso amadurecer algumas questões antes de adotar, é preciso trabalhar seus próprios medos e limitações. É preciso travar com os filhos relações leves e limpas.

*Em posts anteriores vocês podem achar histórias e como revelar a adoção.




Por Cintia Liana

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