"Uma criança é como o cristal e como a cera. Qualquer choque, por mais brando, a abala e comove, e a faz vibrar de molécula em molécula, de átomo em átomo; e qualquer impressão, boa ou má, nela se grava de modo profundo e indelével." (Olavo Bilac)

"Un bambino è come il cristallo e come la cera. Qualsiasi shock, per quanto morbido sia
lo scuote e lo smuove, vibra di molecola in molecola, di atomo in atomo, e qualsiasi impressione,
buona o cattiva, si registra in lui in modo profondo e indelebile." (Olavo Bilac, giornalista e poeta brasiliano)

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Procuradora agride filha adotiva de 2 anos

Foto: Google Imagens (Esta foto nada tem a ver com a matéria abaixo)

Edição do dia 26/04/2010
Atualizado em 27/04/2010 10h19

Procuradora aposentada é acusada de agredir filha adotiva de 2 anos
Polícia abriu um inquérito para investigar o caso.
Conselho Tutelar registrou uma queixa de maus-tratos.
Do Jornal da Globo

Uma procuradora de Justiça aposentada é acusada de agredir a filha adotiva de dois anos, no Rio. No último dia 15, logo após receber a denúncia, o Conselho Tutelar retirou a menina do apartamento onde morava com a mãe, em Ipanema, na Zona Sul. A polícia abriu um inquérito para investigar o caso e começou a ouvir as testemunhas nesta segunda (26).

Segundo o conselheiro, a criança estava no chão do terraço onde fica o cachorro da procuradora aposentada Vera Lúcia Gomes. De lá, a menina foi levada para um hospital. Com os olhos inchados, ela precisou passar três dias internada.

Na delegacia, o Conselho Tutelar registrou uma queixa de maus-tratos e apontou a procuradora como a única responsável pela violência. Uma gravação que teria sido feita dentro do apartamento da suspeita mostra um dos momentos de agressão. A voz seria da doutora. O choro seria da menina adotada por ela há pouco mais de um mês.

Uma empregada que trabalhou para a promotora, que não quis se identificar, afirmou que a doutora agredia a menina. “A doutora Vera acordava com a garota. Dava bom dia e ela não respondia, era motivo pra bater nela. Aí batia muito. Batia no rosto, na cara e puxava o cabelo”.

Agressões
Abandonada pela mãe num abrigo, a menina de dois anos foi levada em março para o amplo apartamento de luxo da promotora, em Ipanema, onde ela teria sofrido agressões e humilhações. Segundo a empregada, a doutora batia na criança na frente dos outros funcionários da casa.

“Ela (promotora) levantou a garota pelo cabelo e dava mais, levou até o quarto dando tapa", afirmou uma babá que também trabalhava para a promotora.

Por causa da violência que dizem ter presenciado, as funcionárias abandonaram o emprego. Agora elas são as principais testemunhas do caso. A empregada contou que a menina não pedia ajuda: “Não pedia. Só chorava. Não tinha como pedir, porque ela não podia chegar perto da gente”, completou a doméstica, que completou dizendo que não chamou a polícia por medo: “Ela sendo uma pessoa poderosa, a gente tinha medo mesmo”.

"Dane-se", diz promotora
Por telefone, a promotora desqualificou a denúncia: “Meu senhor (riso) eu... sem resposta”. Ao ser questionada sobre a denúncia, a doutora respondeu: “Meu senhor, dane-se! Azar, azar. Que tenha vinte.”

O chefe da procuradora aposentada, Cláudio Lopes, também determinou a apuração da denúncia. “Em tese, você pode ter a caracterização de delito de maus tratos, pode ter uma simples lesão corporal, ou, dependendo das provas, pode até se caracterizar um delito de tortura”, disse.

A juíza titular da Vara da Infância e da Juventude do Rio de Janeiro, Ivone Caetano, garante que a procuradora perdeu o direito de tentar novas adoções. “Ela já mostrou o perfil dela. Por que nós vamos colocar outra criança a mercê de uma criatura dessa natureza?”.

A nova vida da garota fora do abrigo durou muito pouco. Depois de passar quase um mês na companhia da procuradora aposentada, ela foi levada de volta para a instituição pelo Conselho Tutelar.

“É feito um trabalho psicológico antes de se colocá-la para nova adoção, para que ela perca todo o trauma recebido por tal tratamento”, completou a juíza.
Fonte:
http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2010/04/procuradora-aposentada-e-acusada-de-agredir-filha-adotiva-de-2-anos.html

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Gente, o mais interessante é a última frase da matéria:
"É feito um trabalho psicológico antes de se colocá-la para nova adoção, para que ela perca todo o trauma recebido por tal tratamento."

A criança não é um objeto para descartar trauma só apertando um botão, essa lembrança e esse mal estar estarão em sua memória a vida toda, ela não é um objeto que sofreu mau uso e agora será recuperado para um novo dono comprá-lo, pois ainda está na garantia. E não foi um tal tratamento, foi praticamente tortura!
Devemos encarar as perdas da crianças em ter feito interface com esta senhora e temos que encarar o sofrimeto dela, validá-lo, repeitá-lo e, ainda assim, esta criança continuará sendo digna e merecedora de uma família que a ame, pois ela não perdeu o que é de mais nobre, a humanidade. Ela continua sendo um ser humano, alguém com sentimentos e com o desejo de ser amado e é isso o que importa. O trauma validado, reconhecido não a diminue.
Terá sempre alguém maduro e corajoso o suficiente para adotar uma criança que passou por situações conflituosas e, acredite, muitas crianças abrigadas superam situações e memórias difíceis de forma muito mais forte e otimista que muitos adultos por aí. O sofrimento não faz de ninguém delinquente, violento e não merecedor de amor.

A Senhora procuradora que adotou é que deveria ser melhor avaliada antes de ser habilitada e não expor a criança e depois colocá-la para que o psicólogo faça uma mágica para que ela "perca o trauma recebido por crime de tortura". Psicólogo não faz mágica! Antes de tudo reformem o processo de avaliação de suas Varas, sejam cuidadosos com todos os interessados em se habilitar, não favoreçam.
Será que a procuradora foi avaliada para ser habilitada? Será que por ser autoridade não fizeram "vista grossa"? Será que passou por todas as avaliações necessárias como todos os outros cidadãos "não autoridades"?
Ela só perderá o direito de realizar novas adoções? Só isso? Mas isso é uma coisa obvia! Mas ela não irá sofrer nenhuma punição por ter maltratado a criança?

Eu já atendi uma promotora pública, com traços psicológicos esquizofrênicos, queria adotar uma criança que já estava vivendo em quase cárcere privado em seu apartamento e estava servindo de dama de companhia para sua irmã esquizofrênica. Procurei impedir a habilitação dela até que pegaram no flagra o teatro armado na casa esquizofrenizante.

Será que só porque elas passaram num concurso público e se tornaram "autoridade" , têm o direito a fazer besteiras por aí?



Um torturador não comete crime político. Um torturador é um monstro, é um desnaturado, é um tarado. Um torturador é aquele que experimenta o mais intenso dos prazeres diante do mais intenso sofrimento alheio perpetrado por ele." (Ayres Britto)
Por Cintia Liana

terça-feira, 27 de abril de 2010

Influências do uso do Crack em Crianças

Imagem: Google


Olha que coisa mais legal o e-mail que recebi de uma nova mamãe!
Parabéns pela garra! Coragem, vontade e amor com o seu é para ser visto por todos.


"Os Estados Unidos há cerca de 18 ou 20 anos tinha um "alarme" a respeito de uma geração perdida, de "crack babies", que teriam retardo mental e seriam viciados e criminosos em potencial.

Existe uma carta pública de cientistas de renome dos Estados Unidos e Canadá, atualmente (quando os índices de criminalidade inclusive baixaram) pedindo que se pare de usar essa denominação "crack babies", que se mostrou estigmatizante e nada comprovada cientificamente.

As taxas de retardo mental entre filhos de usuárias de crack e o restante da população são os mesmos, e menores do que os filhos de usuárias de álcool e tabaco. Há alguns problemas que podem ter maior incidência nessas crianças e um modo específico de ninar e lidar nos primeiros meses, mas não se pode falar em determinismo algum, como eu nunca acreditei.

Assim, não vou cair nessa, e amanhã vou conhecer o meu filho."


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Não deixe que o medo, o preconceito e a falta de informação das outras pessoas interfira decisivamente em suas escolhas e defina a sua vida. Muitas vezes você pode ter muito mais coragem e vontade que ela.

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Para uma pesquisa mais aprofundada, o que há de mais relevante está nos links a seguir:

http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2010/04/15/AR2010041502434.html?wprss=rss_metro http://www.druglibrary.org/Schaffer/cocaine/crackbb2.htm
http://www.nytimes.com/2009/01/27/health/27coca.html?_r=1
http://encyclopedia.adoption.com/entry/drug-abuse/118/1.html
http://www.adoptionconnection.org/newsletter_drug_exposed.asp
http://www.welfareacademy.org/pubs/childwelfare/letsgive-0989.shtml
http://advocatesforpregnantwomen.org/articles/crackbabyltr.htm

Tratamentos atuais antidrogas para mulheres grávidas e que lenca
alguns riscos para os bebês:

http://www.doitnow.org/pages/177.html

[Pena que os bons links sobre o assunto são em inglês.]


Por Cintia Liana

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Tempo de negativação do Vírus HIV em Crianças

Image: Google

O tempo para a negativação da criança contactante (mãe biológica com HIV) é até os 2 anos de idade. Até lá, a criança deve ser acompanhada por um infectologista e realizar exames periodicamente como, por exemplo, a carga viral (que pode dizer se a criança irá positivar ou não antes mesmo dos 2 anos de idade) e cd4 e cd8.
Até ter a certeza da negativação, a criança deverá fazer uso do Bactrim para prevenir infecções oportunistas.
Tudo isso é oferecido na rede pública de saúde: consultas, exames e medicações.

(Mensagem de uma mãe adotiva e enfermeira)


Pode parecer até absurdo para algumas pessoas, mas há quem adote crianças com o vírus do HIV ainda ativo e que depois é negativado. Maravilha! Há pessoas capazes de se abrir para situações que exigem muita segurança e firmeza.
O amor e cuidados especiais individualizados fazem toda a diferença no processo de negativação. Os poucos casos que acompanhei até hoje todos foram agraciados com a negativação do vírus, mas os pais se mantiveram firmes, no propósito de amor com o filho, independente do resultado, e isso a criança sente, o amor incondicional. As células respondem positivamente a investimento verdadeiro de amor.

Como sempre digo, o que o amor não transforma e não cura? É o melhor dos remédios.


Por Cintia Liana

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Poesia de Cora Coralina

Foto: Getty Images

Não sei... Se a vida é curta
Ou longa demais pra nós,
Mas sei que nada do que vivemos tem sentido
Se não tocamos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser:
Colo que acolhe,
Braço que envolve,
Palavra que conforta,
Silêncio que respeita,
Alegria que contagia,
Lágrima que corre,
Olhar que acaricia,
Desejo que sacia,
Amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo,
É o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela
Não seja nem curta,
Nem longa demais,
Mas que seja intensa,
Verdadeira, pura...
Enquanto durar.

(Cora Coralina)

Meu carinho ao Grupo "Psicologia e Adoção".
Sou feliz por andar ao lado de vocês.

Por Cintia Liana

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Comece pelo Mundo

Foto: Google Imagens

Texto postado em 1º de abril de 2010 em meu outro blog: http://finapresenca.blogspot.com/

Estive pensando ontem que essa frase feita, "para mudar a sociedade devemos começar mudando o nosso próprio comportamento", é muito medíocre.

Essa é uma frase bem "batidinha", que é falada ou que deve ser falada somente por pessoas bem ignorantes, de um nível bem baixo, incluindo os de classe econômica alta, pois baixo nível está na alma. Deve ser falada por ou para pessoas que jogam lixo na rua, fazem fofoca, difamam e caluniam os outros, falam alto, tratam mal pessoas que consideram inferiores, desperdiçam água, não enxergam o próximo, dizem ao filho que ele tem que ser "esperto" e outras tantas bem feias.

Falo que é uma frase medíocre diante de pessoas que estão em outro nível, no de estar mais atento ás necessidades do planeta, que é sensível à situlidade e que reconhece a futilidade.

Para quem está neste outro nível, quer mudar a sociedade? Por que não começar por ela? Faça um trabalho social, se doe a quem tem menos, a quem precisa! Faça um trabalho sem receber dinheiro em troca, faça só por algum ideal! Se é que tem algum. Talvez se mude pessoalmente bem mais rápido. Porque a consciência também pode chegar desta forma, quando nos sentimos tocados pelas necessidades dos outros, quando nos dispomos a somar.

Por mais que sejemos corretíssimos sempre há uma ficha por cair, sempre teremos algo a melhorar, então nunca chegaremos a ajudar o outro se ficarmos somente em nós.

Eu diria, comece por você, mas não pare em você! Chega de alimentar seu próprio umbigo. Se envolva com o mundo.

Sei que tem gente tão errado, que só em se auto ajustar já estaria ajudando a gente demais. Mas, geralmente, esse discurso de que você deve primeiro mudar seu comportamento me remete a preguiça e desinteresse em olhar o próximo, em auxiliar um necessitado.

Normalmente é algum burguês desassumido e ignorante que fala isso, porque nem quer mudar sua mentalidade, denunciar injustiças e muito menos fazer nada por ninguém, ou melhor, quem mesmo? Ele não vê ninguém que não esteja em seu próprio mundo, ele só deseja que o denunciante cale a boca para que a potente voz não corra o risco de fazer desmoronar seu castelinho de ilusões, de sorrisos, falsidade, mentira e dinheiro.

Quando se diz “comece mudando o seu comportamento”, parece que seu processo vai demorar tanto que quando você terminar já será velho demais para fazer algo pelos outros. Isso em meu dicionário se chama egoísmo, porque o estágio seguinte é tão importante quanto esse primeiro e pode ser visto até como o principal, pois dividindo podemos sair do nosso pequeno planeta chamado “individualismo” e enxergar uma necessidade em crescer e se ganhar uma força motriz capaz de transforma toda uma existência.

O tempo não pode esperar, se você para se torna alienado e o mundo passa por cima, consequentemente você fica lá, perdido, em alguma esquina da terra do nunca, nunca vai fazer nada por ninguém e nunca será lembrado.

By Cintia Liana

Foto: Google Imagens

E por falar em Comece pelo Mundo... Que tal começar a falar de adoção por aí? Talvez consigamos ver mais famílias felizes e mais crianças saindo dos abrigos. Para essas crianças ao invés de se perguntarem "será que terei futuro", conseguir se perguntar "o que farei deste futuro".

Por Cintia Liana

Mutirão de Cirurgia Pediátrica em Salvador-BA

Foto: Luiz Tito (Jornal A tarde)

A CIPE/Associação Brasileira de Cirurgia Pediátrica todos os anos, a nível nacional, realiza um mutirão de Cirurgia Pediátrica. Aqui em Salvador, a CIPE - BA, assume a direção do mutirão. Este ano o mutirão será realizado dia 22 de agosto.

Já estão confirmados para participar: o Hospital da Criança de Irmã Dulce, o Hospital Martagão Gesteira e o HUPES (Hospital das Clínicas) da UFBA.

Gostaria de convidá-los como parceiros e contar com a colaboração de vocês para divulgação, pois realmente trata-se de um evento de utilidade pública.

Muitas crianças que estão na fila aguardando cirurgias de hernias, hidroceles, fimose e outras cirurgias de pequeno e médio porte terão a oportunidade de serem operadas.

Os pacientes interessados deverão procurar os ambulatórios de Cirurgia Pediátrica:

Hospital de Irmã Dulce:
Segundas - pela manhã
Terças - tarde
Quartas - manhã e tarde
Quintas - manhã
Sextas - manhã

Hospital das Clinicas (HUPES):
Quintas às 13 hs

Hospital Martagão Gesteira:
Pelas manhãs de segunda a sexta

Atenciosamente e muito obrigada,
Maria do Socorro Mendonça de Campos
Presidente da CIPE-BA/Associação Bahiana de Cirurgia Pediátrica

Contato 71 9961-4120
camposmsm@gmail.com
Skype: mendoncadecampos


Por Cintia Liana

segunda-feira, 19 de abril de 2010

História de um Bebê

Recebi essa linda história em 2007, de um dos pais que assistia minhas palestras sobre família e adoção, quando eu ainda trabalhava na Vara da Infância.
É de um autor desconhecido.



Foto: Google Imagens

“Ele tinha quatro meses quando foi parar numa instituição de menores e pesava 7.600Kg. De repente, não quis mais se alimentar, cerrava os lábios, fechando a boquinha. Seu peso caiu para 2.800Kg. Ficou como se fosse um feto. Cabia na palma da mão de um homem. Seu corpinho não manifestava movimento algum, estava inerte, parado, vivo, mas era como se não o estivesse. Fora abandonado pela mãe naquele lugar. Os médicos fizeram de tudo, mas perceberam que aquela criança queria morrer.

Uma funcionária da casa, vendo a situação, começou a fazer um trabalho muito sério e cheio de amor. Iniciou uma conversa com aquela criança. “Neném, a vida é linda, vale a pena viver!”. Lambendo o seu corpinho ela fazia com a criança o mesmo que um animalzinho faz com seu filhote. Passava-lhe calor, calor humano.

Passaram-se os dias, a criança começou a reagir e a aceitar o chá no conta-gotas e logo em seguida o leite. Certo dia, quando ela o carregava junto ao peito, sua mãozinha escorregou e caiu dentro de seu seio. A criança estremeceu todo o seu corpinho que até então estava inerte. Ela também sentiu uma sensação de arrepio por todo o corpo. Então percebeu que a criança queria mamar no peito. No local havia seis mães que estavam amamentando. A criança foi levada para mamar, mas recusou a todas. Sem saber o que fazer, a funcionária enfiou a mão dentro da blusa e retirando o seio o colocou na boca da criança, que imediatamente o sugou como se daquele seio saísse muito leite. Daí em diante, ela o adotou.

Esta criança mamou durante três anos. Quando a criança queria o peito, ela dizia: “Querido, mamãe não tem mais leite”. A criança respondia: “tem amor mamã...!” Hoje, essa criança tem dezesseis anos e sabe que foi salva pelo remédio mais eficaz do mundo: o amor, o amor de sua mãe substituta.
 
Autor Anônimo

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Confirmada!


* Caminhada pró Adoção*
16 de maio de 2010
10 horas
Rio de Janeiro - RJ, Praia de Copacabana, com saída do Posto 6.

Contamos com a presença e divulgação de todos.

Postado Por Cintia Liana

Livro da Psicóloga Cintia Liana sobre o percurso de construção da família através da adoção e seus aspectos psicológicos.
Para comprar ou visualizar:
http://www.agbook.com.br/book/43553--Filhos_da_Esperanca
(2ª Edição - 2012)

sexta-feira, 16 de abril de 2010

O Dia em que Fiquei Sabendo

Foto: Google Imagens

Autor: Linares, Bel

Como contar a uma criança que ela é filho(a) adotivo(a)?
Qual é a melhor idade para informá-la a respeito de sua origem?
Como assegurá-la de que é amada, mesmo não sendo biologicamente descendente da família de que faz parte?
Essas e outras perguntas costumam atormentar os pais de uma criança adotiva, mesmo que, do fundo de seu coração, estejam totalmente seguros do quanto ela é (e foi) querida.
'O dia em que fiquei sabendo' procura trabalhar as diversas emoções vividas pela criança e pelos pais adotivos ao se depararem com esse momento. Valendo-se de imagens simples, que retratam as várias etapas do processo de adoção, procura dar aos pais (ou educadores) condições de lidar melhor com as possíveis dúvidas infantis com relação ao seu nascimento.

HISTÓRIA :
"Achei uma Mamãe"
Há um certo tempo atrás, lá no céu, viviam muitas criancinhas correndo e brincando sem parar. E todos eram muito, mas muito felizes.

No meio daquelas crianças havia uma menina muito bonita, inteligente e esperta que percebeu que muitos de seus amiguinhos desapareciam assim, de repente, enquanto brincava com eles e sem se saber o por quê.

Então ela, que era muito inteligente, foi conversar com o "Papai do Céu" para saber o que estava acontecendo. Aproximou-se Dele e disse:
- Papai do Céu?
- Sim, minha filha.
- Por quê meus amiguinhos desaparecem no ar quando eu estou brincando com eles?
- Eles não desaparecem, minha filha. Respondeu o Papai do Céu. Eles estão indo nascer lá embaixo na Terra. Eles desaparecem aqui, mas aparecem lá.
- Então, perguntou a menina, por quê eu ainda não fui nascer lá na Terra?
- Porque Eu estou escolhendo uma mamãe e um papai para você.

A menina pensou naquelas palavras e decidiu fazer um pedido.
- Posso escolher minha mamãe e meu papai? Posso? Insistiu a menina.

Papai do Céu coçou sua longa barba branca, pensou e depois de algum tempo resmungou:
- Isso nunca foi feito. Eu sempre faço a escolha. Mas como você mostrou que é muito inteligente Eu vou deixar você escolher.

A menina saiu correndo muito feliz da sua vida e, naquele mesmo dia, passou a olhar aqui para a terra tentando escolher sua mamãe e seu papai.
Ela olhava, olhava, olhava, mas achava difícil escolher no meio de tanta gente.

Os dias foram passando até que num dado instante ela conseguiu ver uma mulher rezando aqui na terra dizendo assim:
- Papai do Céu, manda uma filhinha para mim. Eu sei que minha barriga não cresce mas manda mesmo assim. Eu vou amá-la com toda a foça do meu coração. Ela vai ser minha filha do coração e eu e meu marido seremos seu papai e mamãe do coração. Por favor Papai do Céu...

A menina ao ouvir aquelas palavras foi correndo para o Papai do Céu contar a grande novidade:
- Papai do Céu? Achei! Achei uma mamãe e um papai para mim.
Vem ver, vem ver!

A menina mostrou a mulher aqui embaixo na terra para o Papai do Céu que, depois de olhar disse:
- Minha filha, aquela mulher não pode ser sua mamãe. A barriga dela não cresce e você sabe que as crianças só nascem lá na terra se a barriga da mamãe crescer.
- Eu sei, mas eu quero ela, eu quero! O Senhor pode fazer qualquer coisa e eu quero ser Filha do Coração daquela mamãe.

A menina gritava e chorava, e mais uma vez Papai do Céu pensou e respondeu:
- Tá bom! Então vou fazer você nascer da barriga de uma outra mamãe e vou avisar sua mamãe do coração para ir te buscar.

E assim foi. Ao mesmo tempo que a menina nasceu de uma outra barriga, Papai do Céu fez a mamãe do coração dormir e sonhar. Neste sonho, Papai do Céu mostrou como era a menina e onde ela deveria buscá-la.

Ao acordar, a mamãe do coração ficou tão feliz que chamou seu marido e juntos foram buscar a menina.

Eles viajaram bastante até chegarem a uma cidade distante. Lá começaram a procurar pelo lugar onde estava a menina. Depois de muito tempo e já cansados de procurar, os dois resolveram descansar em um banco de jardim. Assim que sentaram e olharam para a frente, lá estava ela. Era a casa que o "Papai do Céu" havia mostrado no sonho e onde estava a "filhinha do Coração." Rapidamente correram para lá e entraram.

Dentro da casa havia muitos bebezinhos, cada um em sua caminha dormindo.
A mamãe do coração olhava todos eles mas não encontrava a sua filhinha.
Após olhar todos eles, a mamãe do coração, quase desistindo, viu que ainda tinha um bercinho com um bebê todo coberto e enrolado em um lençol.
Toda emocionada, ela se aproximou e puxou o lençol. Pode ver, então, o rosto da menina.
Sim, era ela, a menina que ela tinha visto no sonho.
Imediatamente ela a pegou no colo, abraçou-a e chorou de tanta felicidade.

E assim todos juntos, papai, mamãe e filha do coração voltaram para casa onde foram felizes para sempre!..."

Foto: Livro "Dia Em Que Eu Fiquei Sabendo, O"
Coleção: Crescer
Autor: Linares, Bel
Editora: Salamandra
Assunto: Infanto Juvenis - Literatura Infantil


Por Cintia Liana

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Abuso Sexual, Consequências e como Ajudar as Vítimas

Vamos entender melhor a dinâmica do abuso sexual para que possamos ajudar as pessoas, crianças e adultos, que já passaram por essa experiência. Sabemos também que crianças desamparadas podem ser vítimas em potencial, mas podemos conhecer melhor o assunto para buscar ajuda consistente.
 
Abuso sexual é crime e deve ser deunciado, única forma de salvar a vítima da repetição!
Ligue: 100 ou 181.

Compreender melhor o abuso sexual, suas consequências e como ajudar uma vítima a sair da repetição.

O artigo que segue foi inicialmente escrito por Jacques e Claire Poujol, conselheiros conjugais e familiares, para o uso de terapeutas, psicólogos e conselheiros. Útil para todos os profissionais da ajuda (assistentes sociais, médicos, etc.), mas também para as próprias vítimas, este texto permite compreender melhor o abuso sexual, suas consequencias e como ajudar uma vítima a sair da repetição.

Que o saiba ou não, algum próximo já sofreu e se tornou vítima de abuso sexual. E se for um psicólogo, perceberá logo que várias dificuldades de muitas pessoas encontram aí a sua origem. Para estes homens e estas mulheres mortificados, haverá sempre “antes” e “depois” do abuso.

A nossa sociedade prefere ignorar este problema, atenuar a gravidade, ou mesmo negá-la totalmente. Ou então, cheio de boa vontade, mas também de incompetência, propõe-se às vítimas “soluções” que fazem apenas agravar o traumatismo sofrido.

Respondemos neste artigo às perguntas:

• O que se entende por abuso sexual?

• Por que a vítima tem tanta dificuldade para falar do que sofreu?

• Quais estragos o abuso sexual provoca?

• Como ajudar a vítima a sair da repetição?

• Quem são os abusadores?

• O que se entende por abuso sexual?

1. . Um constrangimento ou um contato

Um abuso sexual é qualquer constrangimento (verbal, visual ou psicológico) ou qualquer contato físico, por qualquer pessoa que se serve de uma criança, adolescente ou adulto, com o propósito de uma estimulação sexual, a deles ou a de uma terceira pessoa.

Contato físico é certamente mais grave que um constrangimento verbal. Mas é necessário saber que qualquer abuso constitui uma violação do caráter sagrado e da integridade da pessoa humana e provoca sempre um traumatismo.

O constrangimento verbal designa: uma solicitação sexual direta; o uso de termos sexuais; a sedução sutil; a insinuação. Tudo isto em relação a uma pessoa que não o deseja ouvir.

O constrangimento visual refere-se: ao emprego de material pornográfico; ao olhar que insiste sobre certas partes do corpo; ao fato de se despir, de se mostrar nu, ou de praticar o ato sexual à vista de alguém. Aqui também, sem que a pessoa o deseje.

O constrangimento psicológico designa: a violação da fronteira entre o relacional e o sexual (um interesse excessivo pela sexualidade de seu filho/a) ou entre o físico e o sexual (lavagens repetidas; um interesse muito marcado pelo desenvolvimento físico de um adolescente).

O contato físico pode ser: bastante grave (beijar, contato do corpo através das roupas, que seja pela força ou não, com ou sem pressão psicológica ou afetiva), grave (contato ou penetração manuais; simulação de relações sexuais, contato genital, com ou sem violência física), ou muito grave (violação genital, anal ou oral, obtida de qualquer maneira que seja, pela força ou não).

2. A estratégia do abusador

Um abuso não é o fato do acaso por parte de quem o comete. Sendo um perverso, este premedita e organiza a relação esperando o momento em que seus fantasmas viciosos lhe parecerão realizáveis. A vítima ignora naturalmente tudo isto. A estratégia perversa comporta em geral quatro etapas:

a. O desenvolvimento da intimidade e do caráter confidencial, privilegiado, da relação. Esta fase, mais ou menos longa (de algumas horas ou anos), visa a colocar em confiança a futura vítima que não duvida de nada.

b. Uma interação verbal ou um contato físico aparentemente “adequado” com a pessoa que vai ser abusada (confidências de caráter sexual, carícias nos cabelos, abraços amigáveis). A pessoa não tem medo, por que: em 29% dos casos, seu futuro abusador é um membro da família, em 60% dos casos um familiar ou amigo. Apenas 11% dos abusos são cometidos por um desconhecido.

c. Uma interação sexual ou um contato sexual.

É a fase do abuso propriamente dito. Aqui, a vítima reencontra-se na mesma situação que um coelho que atravessa uma estrada à noite e é capturado pelos faróis de um automóvel: petrificado, paralisado, siderado, incapaz de reagir, deixa-se esmagar pelo automóvel. O abusador está consciente do que faz com sua vítima.

d. A continuação do abuso e a obtenção do silêncio da vítima pela vergonha, culpa, ameaças ou privilégios.

Este silêncio raramente é quebrado. O abuso permanece um segredo absoluto durante muito tempo, às vezes por toda a vida.

Três sobreviventes das irmãs Dionne, as famosas quíntuplas canadenses, esperaram os sessenta e um anos para revelar, na sua biografia, que tinham sido sexualmente agredidas pelo pai.

Guardando o silêncio, a vítima faz-se, contra a sua vontade, de cúmplice do abusador, uma vez que a única coisa que ele teme é de ser denunciado. O fato de tornar-se assim, bem involuntariamente, seu aliado, reforça o desprezo que tem por si própria e a sua culpabilidade.

Será uma das tarefas do psicólogo explicar que uma pessoa sexualmente abusada não é nunca culpada nem responsável pelo abuso. Não podia adivinhar que as duas primeiras etapas eram apenas uma estratégia do abusador.

Deverá também dizer-lhe que uma pessoa que está sob a dominação do abusador só faz parar os abusos com a denúncia e revelando o que sofreu. Ora, falar, para ela, é muito difícil, por várias razões. Por que uma vítima tem tanta dificuldade em falar do que sofreu?

1. Leva, às vezes, muito tempo para entender que foi abusada

O tempo não conta para o inconsciente, ele está como que parado para a vítima: é, na maioria das vezes, o aparecimento de sintomas como depressão ou perturbações sexuais que a levará a deixar o seu sofrimento emergir na superfície e aceitar falar. É o primeiro passo para a cura. Mas falar deste traumatismo, tomar consciência desta verdade: “Fui abusada”, pode ser um choque terrível. O conselheiro terá necessidade de tato e de grande compaixão para deixar a pessoa descobrir por si mesma e no seu ritmo, a amplitude do drama que viveu. Compreenderá a extrema repugnância que provoca admitir que o seu corpo e a sua alma foram devastados. Gostaria tanto de esquecer, não ter nunca vivido aquilo, que vai se refugiar ocasionalmente na recusa: “Aquilo não pode ter me acontecido.”

A pessoa será incentivada a continuar a falar se acreditarem no que diz (tem absolutamente necessidade de sentir que acreditam nela) e se evitar certas frases destrutivas como:

• - Ele cometeu só um erro, como fazemos todos.

• - Aconteceu só uma vez, afinal.

• - É tempo de virar a página.

• - Já faz muito tempo que passou


2. Sente-se culpada

Em seu foro íntimo, sem mesmo declarar abertamente, a pessoa pensa:

• Sou também culpada?

• Poderia ter evitado?

• Colocado na minha situação, um outro teria podido se opor, se debater, fugir?

O psicólogo pode ir adiantando as perguntas que não ousa exprimir, dizendo:

• Quem detinha o poder (parental, espiritual, moral, organizacional, físico, psicológico)?

• Quem era o adulto? O marcador social? O referente?

• Quem era o instigador, o organizador dos abusos?

• Quem poderia fazer cessar? Pode fazer-lhe compreender que a sua culpabilidade está ligada à defasagem entre a vivência passada (e as razões pelas quais a vítima não pôde impedir: a sua tenra idade, sua ignorância, sua total confiança) e a sua vivência atual, quando já é mais velha, menos ignorante, menos ingênua e já sabe se proteger.

Crê-se culpada porque olha os acontecimentos passados com os olhos do adulto prevenido que é hoje. Ora, na época, não possuía defesas necessárias para impedir o abuso.

Separar-se do agressor

Pode-se também ajudar-la a diferenciar o ponto fraco do qual se serviu o perverso, por exemplo, uma necessidade de ternura completamente legítima, uma confiança cega, e o crime que cometeu, se aproveitando desta necessidade legítima de afeição ou da confiança, para saciar seus desejos imorais.

Desligar estes dois elementos é frequentemente um momento de verdade e um alívio para a pessoa, que faz o seu segundo passo para a cura quando não se sente mais responsável.

Mas o caminho será ainda longo até cicatrização da ferida. A precipitação e a impaciência são os grandes inimigos do conselheiro (e do cliente) neste domínio.

3. Falar pode custar-lhe caro

Cada vez que a pessoa abusada mergulha no horror do seu passado, deve pagar um preço muito elevado. Tentando “esquecer” o abuso, virar a página, tinha construído certo equilíbrio, por exemplo, com os seus parentes.

Se decidir fazer explodir a verdade, arrisca desorganizar este equilíbrio fictício e suscitar pressões dos seus parentes. Encontra-se sempre falsos “bons conselheiros” preocupados com sua própria tranquilidade e pelo que dirão os defensores dos abusadores, que vão acusá-la de mentir ou exagerar, de despertar o passado e incita-la-ão a esquecer, ou mesmo “a perdoar”; o cúmulo é que corre o risco até mesmo de ser responsabilizada pelo abuso.

O psicólogo deverá, então, apoiar, incentivar e assegurar a sua proteção material e psicológica. Ajudá-la a avaliar o preço da luta que deverá efetuar para sair do lamaçal do abuso sexual e realizar que o seu desejo de sair do sofrimento será ainda negado por aqueles que deveriam mais protegê-la: a família ou os responsáveis pelas instituições.

É necessário notar que quando o abusador faz parte de uma instituição, qualquer que seja, esta decide frequentemente, por medo do escândalo, “acoberta-lo” e, por conseguinte, permanecer na recusa do abuso, mais que reconhecer publicamente a existência de um perverso sexual na instituição.

Há um consenso social de reprovação à pessoa que tem a coragem de remexer nestas coisas imundas: que ela continue como morta viva, não é grave. O mais importante, é que se cale.

4. Sofre de vergonha
Sartre disse que vergonha é “a hemorragia da alma”. Um abuso sexual marca a pessoa ao ferro e fogo, a suja, a leva a esconder-se dos outros. A vergonha é uma mistura de medo da rejeição e cólera para com abusador, que não ousa se exprimir. [Sente-se culpada pelo crime até nomear o agressor e o crime e a arma do crime. (N. da T.)]

O sentimento justo que deveria provar é a cólera. Provar este sentimento liberador ajuda-a a sair da vergonha. É necessário, às vezes, tempo para que chegue a exprimir a sua indignação face à injustiça que sofreu. Esta expressão da cólera poderá fazer-se seja de maneira real, em frente ao culpado, ou, se não for possível para a sua segurança pessoal, de maneira simbólica. Em todos os casos cabe à vítima decidir.

A vergonha está ligada ao olhar que a vítima leva sobre si própria; vê-se como suja por toda a vida. É o seu olhar que deverá se alterar, e isto alterando a sua maneira de pensar.

5. O desprezo
Sentindo-se vergonhosa, a pessoa abusada tem duas soluções: desprezar-se a si própria ou desprezar o abusador e os semelhantes. Nos dois casos, o resultado é o mesmo: autodestruição, porque o ódio de si ou o ódio do outro são ambos destrutivos.

O desprezo por si própria pode referir-se ao seu corpo, a sua sexualidade, a sua necessidade de amor, a sua pureza, a sua confiança.

Este desprezo de si tem quatro funções: atenua a sua vergonha, asfixia as suas aspirações à intimidade e à ternura (desprezar-se anestesia o desejo), dá-lhe a ilusão de dominar o seu sofrimento e evita-lhe que procure a cura do seu ser.

Quando o desprezo por si mesma é muito intenso, pode levar à bulimia, à violência contra si e ao suicídio; nestes três casos, a pessoa pune o seu próprio corpo porque ele existe e tem desejo.

6. O verdadeiro inimigo

Se perguntar a uma pessoa que sofreu um abuso sexual qual é o seu inimigo, responderá sem dúvida: “É o culpado do abuso.” O que lhe parece evidente. A vítima tem escolha: ou combate, cultivando o seu ódio para com abusador, ruminando uma vingança contra ele; ou foge, procurando esquecer, endurecendo-se para não mais sofrer, fechando-se em si mesma, passa a ser insensível, de maneira a não mais sentir nem emoção nem desejo.

Mas estas duas soluções são vãs, porque o inimigo não é o abusador. Certamente, representa um problema, mas a boa notícia é que não é o problema essencial. O verdadeiro adversário é a determinação da pessoa a permanecer no seu sofrimento, a sua morte espiritual e psíquica e a recusar reviver. O inimigo reside, por conseguinte, paradoxalmente, na própria vítima!

Este terceiro passo para a cura é sem dúvida o mais difícil de cruzar. A pessoa deve compreender que tem na frente dela a vida e a morte, e que pertence apenas à ela permanecer na morte ou escolher viver.

Quando o conselheiro sente que ela tomou a decisão de sair da pulsão de morte para entrar na pulsão de vida, terá então sem dúvida a ocasião de lhe falar dos três grandes estragos que o abuso produziu na sua vida e que deverão ser reparados.

7. O sentimento de impotência

O abuso sexual foi imposto à vítima. Que tenha se produzido uma vez ou cem vezes, com ou sem violência, não altera o fato de que foi privada da sua liberdade de escolha.

Os estragos produzidos pelo abuso sexual.

Estes estragos constituem umas torrentes tumultuosas que devastam a alma, e que inclui: o sentimento de impotência, o de ter sido traída e o sentimento de ambivalência, bem como vários outros sintomas.

Este sentimento provem de três razões:

Não pôde alterar a sua família disfuncional, se se trata de um incesto. Os seus parentes não a protegeram como deveriam, a sua mãe ou a sua sogra nada viram ou fingiram nada ver.

Que o abuso foi acompanhado de violência ou não, que aja dor física ou não, a vítima não pôde escapar, o que cria nela fraqueza, solidão e desespero. Além disso, o culpado serve-se da ameaça ou da vergonha para reduzir ao silêncio e recomeçar em toda impunidade, o que aumenta a sua impotência.

Não chega a pôr um termo ao seu sofrimento presente. Só a decisão de suprimir-se anestesiaria a sua dor, mas não pode resolver-se, então continua a viver e a sofrer.

b. Este sentimento de impotência provoca graves prejuízos

A pessoa abusada perde a consideração por si própria, duvida dos seus talentos e crê-se medíocre.

Abandona qualquer esperança.

Insensibiliza a sua alma para não mais sentir a raiva, o sofrimento, o desejo ou a alegria. Esconde e repele no seu inconsciente as lembranças horríveis da agressão sexual.

Pela força de renunciar a sentir a dor, torna-se como morta. Perde o sentimento de existir, parece estrangeira a sua alma e a sua história.

Perde o discernimento relativo às relações humanas, o que explica que as vítimas de abusos caem de novo nas garras de um perverso, que reforça o seu sentimento de impotência.

2. O sentimento de ter sido traída

Muitas pessoas ignoram o nome dos onze outros apóstolos, mas conhecem Judas, o traidor. Por quê? Porque a maior parte das pessoas considera que nada é mais odioso que ser traído por alguém que se supunha amigo e respeitoso.

A pessoa abusada sente-se traída não somente pelo abusador em quem tinha confiança, mas também pelos que, por negligência ou cumplicidade, não intervieram para fazer cessar o abuso.

As consequências da traição são: uma extrema desconfiança e a suspeita, sobretudo em relação às pessoas mais amáveis; a perda da esperança de ser próxima e íntima de outro e de ser protegida no futuro, visto que os que tinham o poder não o fizeram; a impressão que se foi traída, foi porque mereceu, devido a uma falha no seu corpo ou no seu caráter.

3. O sentimento de ambivalência
Consiste em sentir duas emoções contraditórias ao mesmo tempo. Aqui, a ambivalência gravita ao redor dos sentimentos negativos (vergonha, sofrimento, impotência) que simultaneamente, às vezes, foram acompanhados de prazer, que seja relacional (um cumprimento), sensual (uma carícia), ou sexual (tocar nos órgãos), nas primeiras fases do abuso.

O fato que o prazer, às vezes, seja associado ao sofrimento provoca prejuízos consideráveis: a pessoa sente-se responsável por ter sido abusada, já que “houve” prazer; a lembrança da agressão pode retornar nas relações conjugais; não chega a desabrochar-se na sua sexualidade que é para ela demasiado ligada à perversidade do abusador; controla e mesmo proíbe-se o prazer e, por conseguinte, o seu desejo sexual.

O conselheiro deve explicar à pessoa que não é responsável de ter provado certo prazer, porque é normal que apreciou as palavras e os gestos “de ternura” do abusador. É a natureza que deu ao ser humano esta capacidade de sentir prazer.

O que não é normal é a perversão dos que premeditaram estas atitudes afetuosas para fazer cair uma presa inocente na sua armadilha. É ele o único responsável.

4. Alguns outros sintomas

Pensa-se em eventual abuso sexual se o cliente:

- Sofre de depressões repetidas.

- Apresenta perturbações sexuais: falta de desejo, asco, frigidez, impotência, temor ou desprezo pelos homens ou mulheres, medo de casar-se, masturbação compulsiva. Na criança, esta perturbação do autoerotismo, assim como algumas enureses, podem fazer pensar em abuso sexual.

- Destrói-se pelo uso abusivo de álcool, de droga ou de alimento. A obesidade, em especial, permite às jovens ou mulheres que foram violadas se tornar, inconscientemente, menos atrativas e se proteger assim contra outra agressão.

- Sofre de dores de barriga, de infecções ginecológicas repetidas.

- Um estilo de relação com os outros muito caraterístico: ou é demasiado agradável com todos, ou é inflexível e arrogante, ou por último é superficial e inconstante. Ajudar a vítima a reviver

Esta deverá cessar de ouvir as vozes internas que a mantém na culpabilidade e vergonha e se pôr à escuta da voz da verdade, que a conduzirá para a libertação.

Deverá também abandonar as vias sem saídas que pessoas bem intencionadas, mas incompetentes (das que ajudam “pouco ajudadas”!) lhe propõem: negar o abuso, minimizá-lo, para esquecer, para perdoar o culpado sem que este se arrependa seriamente, para virar a página, para parar de reclamar, etc.

A via que leva ao bem-estar compreende duas etapas: olhar a realidade de frente, e decidir reviver.

1. Olhar a realidade de frente

A pessoa deverá reencontrar as lembranças do abuso, admitir os estragos e gradualmente sentir os sentimentos adequados.

a. Reencontrar as lembranças do abuso

A vítima prefere mais esquecer, tanto a enoja ou a terrifica. Ou então, ela conta friamente como se fosse de uma outra pessoa que se trata. Mas, esta recusa é um obstáculo à cura. O abuso não deve ser apagado, mas nomeado.

Com muito tato, incentivar a lembrar do passado, às vezes muito remoto, porque só um abcesso esvaziado pode cicatrizar.

O retorno das lembranças repelidas vai se fazer progressivamente durante a psicoterapia. O inconsciente da pessoa colabora ativamente por meio de sonhos, ou imagens que lhe vem ao espírito.

Certos acontecimentos fazem também reaparecer os traumatismos esquecidos, por exemplo: um encontro com o abusador, uma gravidez, a menopausa, um outro abuso, o fato de que um de seus filhos atinja a idade que tinha quando foi abusada, o fato de reencontrar-se nos lugares da agressão, ou o falecimento do culpado.

b. Admitir os estragos
Este regresso penoso no passado vai permitir-lhe admitir as duras verdades seguintes:

• Fui vítima de um ou vários abusos sexuais. É um crime contra o meu corpo e contra a minha alma.

• Sendo vítima, não sou responsável deste crime, que só pude sentir.

• Em consequência destes abusos, sofro de sentimentos de impotência, de traição e de ambivalência.

• O meu sofrimento é intenso, mas a cicatrização é possível, se admitir que houve ferida. Esta cicatrização levará tempo.

• Não devo envolver o meu passado com um véu de segredo e de vergonha; mas também não sou obrigada a falar a qualquer um.

Sentir os sentimentos adequados
A culpabilidade (que é um sentimento de extorsão muito frequente), a vergonha, o desprezo, a impotência, o ódio, o desespero, deverão gradualmente ser substituídos pelos sentimentos mais adequados que são a cólera para com abusador e os seus cúmplices, e a tristeza face aos estragos sofridos. Esta tristeza não deve levar à morte, ao desespero, mas à vida, ou seja a uma fé, uma esperança e um amor renovados.

O conselheiro favorecerá a expressão destes dois sentimentos, de maneira real ou simbólica, mas sempre em toda segurança, no quadro protegido das sessões de relação de ajuda.

2. Decidir reviver

Por que uma vítima de abuso sexual deveria decidir reviver, depois de tudo o que sofreu e sofre ainda? Simplesmente porque é melhor para ela escolher a vida e não a morte.

Escolher reviver significará para ela:

a. Recusar estar morta
A vítima acha normal viver com um corpo e alma mortos; paradoxalmente, isto lhe permite sobreviver, não arriscando mais sentir alegria ou dor.

b. Recusar desconfiar
A vítima desconfia dos seres humanos. Uma mulher violada, em especial, vê todo “macho” como “o mal”. Deverá aprender a transformar a sua desconfiança para com os homens em vigilância, o que é muito diferente.

c. Não mais temer o prazer e a paixão
Estes dois elementos trazem ao drama que sofreu, então ela foge. Fazendo, priva-se destes dois dons.

Sendo vítima do desejo (perversos, mas desejo do mesmo modo) de alguém, “lança o bebê com a água do banho”, ou seja rejeitando o abuso que sofreu, rejeita ao mesmo tempo qualquer desejo, até mesmo o seu.

Deve entender que não é porque alguém teve um desejo perverso para com ela que deve doravante renunciar ao seu próprio desejo.

d. Ousar amar de novo
Deverá progressivamente renunciar às suas atitudes auto protetoras e o seu fechamento em si mesma para provar de novo a alegria de amar os outros e de estabelecer relações calorosas e seguras.

Deixará a sua carapaça para reencontrar um coração terno, capaz de correr o risco de amar aqueles que encontra. Abandonará as suas defesas, o que não quer dizer que não se cercará de proteções. Uma proteção não é uma defesa.

Descobrirá que, se é verdade que uma ou várias pessoas a traíram, a grande maioria dos outros são dignos de confiança.

A revelação do abusador

1. Quem são?

Na sua grande maioria são jovens pessoas ou homens, provindos de todas as classes da sociedade e de todos os meios.

No mais das vezes, fazem parte do ambiente da vítima: um colega, um vizinho, um chefe escoteiro ou um animador de jovens, uma babá, um professor, um proprietário, um colega de trabalho, um padre, etc.

Muito frequentemente são também membros da família: o pai, o tio, o avô, o sogro (cada vez mais frequentemente devido ao aumento dos rematrimônios e das famílias expandidas), o irmão, o meio-irmão ou o quase irmão, o cunhado, o primo, etc. Fala-se então de incesto ou abuso sexual intrafamiliar.

Trata-se, mais raramente, de uma pessoa desconhecida da vítima.

É necessário notar que 80% dos agressores foram eles mesmos vítimas de abusos no passado, o que não o desculpa de modo algum, mas pode explicar em parte o seu comportamento.

2. Revelação

Uma vítima tem muita dificuldade para denunciar o seu agressor; revelará mais facilmente o abuso em si. No entanto, esta denúncia tem um grande alcance terapêutico e é necessário incentivar a quebrar o silêncio. Uma vez dito à outro, a palavra torna-se inter-dita e não mais interditada, como queria o perverso.

Mas esta denúncia frequentemente é mal aceita pela sociedade. Enquanto uma pessoa sexualmente abusada não denunciar o culpado, é considerada como vítima. Mas o dia em que decide se referir à Justiça, consideram-na então como culpada de acusar alguém, e o crime cometido para com ela vai ser negado.

É por isso que, por exemplo, a grande maioria das mulheres violadas se resignam a permanecer vítimas por toda a vida e, por conseguinte, a calar-se, por medo finalmente de ser acusada do crime que denuncia. Ora, nunca deveriam hesitar a devolver o peso do crime à quem pertence: ao violador.

É necessário, no entanto, saber que, se denunciar tem um efeito terapêutico, o processo judicial é longo, penoso e dispendioso. Os interrogatórios repetidos, a falta de respeito e tato de certas pessoas, a vergonha de revelar a sua história na frente de todos, a impressão de não lhe darem crédito, provocam o que se chama de vitimização secundária. Cada vez que relata a violação, a mulher se sente de novo violada.

O apoio, material e psicológico, de organismos especializados na ajuda às vítimas de abusos sexuais, é precioso neste tipo de diligência, tanto mais que o julgamento pronunciado do culpado, na maioria das vezes clemente, parece decepcionante e injusto à vítima e reaviva a sua dor.

Se tiver o conhecimento de um caso de abuso sexual, a primeira coisa a fazer é afastar a vítima do abusador, a fim de evitar que este último recomece.

No caso específico de abuso sexual sobre menor, a segunda diligência é informar as autoridades competentes (serviços sociais e polícia).

A lei obriga a esta revelação, e deve neste caso quebrar o segredo profissional, se não se corre o risco de ser considerada pela lei como cúmplice. Esta denúncia visa a proteger a vítima e as outras vítimas potenciais, e a obrigar o culpado a parar as suas atuações.

As reações do abusador a sua revelação
Um recente Colóquio europeu sobre as violências sexuais estabeleceu que 82% dos abusadores não admitem a sua responsabilidade (53% negam totalmente os fatos). Só 18% dentre eles admitem os fatos, e ainda porque são obrigados após confrontação com as vítimas, e não sem a acusar de “tê-lo provocado”.

Esta negação dos fatos permite-lhes perseverar na sua perversão, e por conseguinte, não se privar do seu gozo, que só conta para eles.

Quando não podem mais negar os fatos, admitem-no minimizando ou negando as consequências desastrosas sobre as vítimas, sobretudo se o abuso for isento de violência física. Se tiverem remorso ou lamentação, nunca por seus crimes, mas por ter-se feito denunciar e pelo dever de parar.

Se o psicólogo mostrar-se indulgente para com um perverso, porque deseja regrar rapidamente uma situação que o excede ou desgosta, corre o risco de ser manipulado pelo abusador que fará prova de “se arrepender” para continuar em paz as suas atividades viciosas escondidas. Faz-se assim de seu cúmplice, o que é grave.

Uma reação possível do culpado de abusos é a seguinte: ele suja e se alia. Suja as vítimas ou outras pessoas inocentes acusando-as do mal que ele mesmo comete; ao fazê-lo alivia, assim, a sua culpabilidade. Além disso, alia-se com os que podem se tornar seus aliados e seus defensores (um pai incestuoso alia-se a sua mulher de modo que o deixe abusar da sua filha).

Um perverso que é revelado e que recusa se arrepender pode cair no pânico, na depressão, no álcool ou no suicídio; mais frequentemente endurece-se e continua de maneira mais intensa as suas práticas.

É extremamente raro que um delinquente sexual arrependa-se realmente, (no máximo exprimirá vagas “lamentações”), mas é necessário sempre dar-lhe a ocasião.

Em conclusão, todo terapeuta deveria se dedicar a formar-se neste domínio tão específico, se quiser se ocupar de pessoas que sofreram deste drama que constitui o abuso sexual.

Fonte: Claire et Jacques Poujol - www.relation-aide.comTradução: Mirian Giannella – http://giannell.sites.uol.com.br/
Por Cintia Liana

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Grupos de Apoio a Adoção

Foto: Cintia Liana com filhos de amigos do grupo "Psicologia e Adoção"

Quintal da Casa de Ana –
1ª. Terça-feira do mês, às 19hrs, Av. Roberto Silveira n. 123, 2 andar, Icaraí, Niterói.06/04/2010 - Tema: Filho real X Filho ideal, com a psicóloga Lucia Pimentel como palestrante.
Rosa da Adoção –
próxima segunda-feira, 12/04, às 18h30m, no Salão do Centro Pastoral Santa Rosa de Lima, Barra da Tijuca. O Rosa terá um espaço disponível para a recreação das crianças.
Café Com Adoção –
próxima terça-feira, 13/04, às 16 h, no Auditório daVara da Infância da Capital – sempre as segundas terças-feiras do mês.
Ana Gonzaga II –
segunda-feira 19/04, 19 h, na Igreja Metodista de Cascadura com o tema: Adoção Tardia com Lindomar Darós, Psicólogo Judiciário da Vara da Infância, da Juventude e do Idoso da Comarca de São Gonçalo. Sempre as terceiras segundas-feiras do mês.
Ana Gonzaga I –
terça-feira 20/04, no Instituto Metodista Bennett, na Rua Marques de Abrantes n. 55, Flamengo, com tema a confirmar. A apresentação ficará a cargo da Equipe Técnica da CEJA. Sempre as terceiras terças-feiras do mês.
Adoçando Vidas –
1ª quinta-feira do mês, às 19 h, Estrada da Caroba n.685, Bl. B, Sala 104, Campo Grande.
Por Cintia Liana

Adoção, a distância entre sonho e realidade

Foto: Fabiana e Leandro Gadêlha, pais biológicos de Valentina (e), adotaram Miguel, que tem síndrome de Down: "Um ato de amor".

FAMÍLIA
Adoção, a distância entre sonho e realidade

No DF, há 427 candidatos na fila para adotar uma criança, mas boa parte deles quer bebês, enquanto a maioria dos meninos e das meninas cadastrados é mais velha. Resultado: de 2008 para 2009, os acolhimentos caíram 32%.
Sonhar com um novo lar é rotina para as 158 crianças brasilienses abandonadas pelos pais biológicos. Enquanto isso, 427 famílias estão na fila de espera para a adoção. Essa é uma equação matemática que parece simples, mas infelizmente é quase impossível de ser resolvida. A maioria dos meninos e meninas que aguardam a chance de serem adotados tem mais de 5 anos, pele morena ou negra e foi vítima de violência doméstica ou sexual. Os candidatos a pais querem recém-nascidos brancos e saudáveis. A discrepância entre as crianças reais e aquelas imaginadas pelas famílias cadastradas deixa mais distante a solução do problema. Por isso, o número de adoções vem caindo. No ano passado, houve 180, número 32% inferior ao registrado em 2008 (265).

Os dados foram divulgados ontem pela Vara da Infância e da Juventude (VIJ) e ainda não refletem as mudanças na lei da adoção — que só entraram em vigor em novembro do ano passado. Para especialistas, as restrições impostas pelos próprios interessados em adotar são a principal causa da queda do número de inserções em famílias substitutas. Hoje, só existe uma criança menor de 2 anos cadastrada em Brasília para adoção. Já os maiores de 12 anos são 103, ou 65% do total. Atualmente, não há qualquer família interessada em adotar meninos ou meninas nessa faixa etária.
Em 62% dos 180 processos concluídos no ano passado, os pais não estavam inscritos no cadastro da VIJ. Essa era uma prática antiga no DF e no Brasil: a mãe interessada em entregar o bebê para adoção indicava a pessoa que ficaria responsável pela criança. Mas, com a Lei nº 12.010/09 (Leia O que diz a lei), o costume foi proibido. Só há três possibilidades em que os novos pais não precisam estar no Cadastro Nacional da Adoção: quando o interessado é padrasto ou madrasta da criança, quando é membro da família ou se tiver a guarda legal há mais de três anos.
O supervisor da Seção de Adoção da Vara da Infância e da Juventude, Walter Gomes, lamenta o interesse restrito das famílias habilitadas para acolher uma criança. “O que precisamos fazer hoje é uma desconstrução da cultura da adoção no Brasil. Hoje, as famílias pensam apenas nos recém-nascidos, brancos e saudáveis. Mas a adoção tem que ser voltada para quem precisa”, defende Gomes. “Enquanto isso, crianças com histórico de violência, de pele escura, adolescentes ou pessoas com necessidades especiais têm poucas chances de serem adotados.”
Bom exemplo
A advogada Fabiana Gadêlha, 32 anos, e o administrador Leandro Gadêlha, 29, são uma exceção. Pais biológicos de Valentina, 3, o casal se habilitou para adotar uma criança em 2007, com a condição de que ela tivesse até 3 anos e fosse saudável. No ano passado, Fabiana conheceu um grupo paulista que defende a adoção tardia e o acolhimento de crianças com deficiências.
"Percebi que a espera pela adoção é como uma gravidez. Quando a gente está grávida, enfrenta o risco de o bebê nascer com algum problema. Por que na adoção isso tem que ser diferente?”, questiona Fabiana. Em setembro passado, o casal adotou Miguel, que tem síndrome de Down. O menino tem hoje 1 ano e 3 meses. “A adoção é um ato de amor, não é um ato humanitário”, ensina a mãe.
O que diz a lei
Principais pontos da Lei nº 12.010/09, que traz as novas regras da adoção:
Na impossibilidade de permanência na família natural, a criança e o adolescente serão colocados para adoção.
O Estado deve proporcionar assistência psicológica e médica à gestante e à mãe interessada em entregar seu filho para a adoção, no período pré e pós-natal.
As gestantes ou mães que manifestem interesse em entregar seus filhos para adoção serão obrigatoriamente encaminhadas à Justiça da Infância e da Juventude.
A permanência da criança e do adolescente em programa de acolhimento institucional não deve ser superior a dois anos.
A manutenção ou reintegração de criança ou adolescente à sua família terá preferência em relação a qualquer outra providência.
Os grupos de irmãos serão colocados sob adoção, tutela ou guarda da mesma família substituta.
Cadastro Nacional tem 5,2 mil nomes
A diferença entre o número de crianças na fila de espera e a quantidade de pais interessados na adoção é grande no DF, mas a discrepância é ainda maior em todo o Brasil. Existem hoje 5,2 mil meninos e meninas no Cadastro Nacional de Adoção, enquanto 27 mil pais sonham com um filho. A lei da adoção foi criada para tentar acelerar o acolhimento pelas famílias substitutas, mas os primeiros impactos só serão registrados nos dados consolidados de 2010.
O chefe do Setor de Adoção da Vara da Infância e da Juventude (VIJ), Walter Gomes, conta que a cultura já começou a mudar. “Praticamente acabaram os pedidos de adoção consensual, em que a família era indicada pela genitora, mas não estava habilitada. A partir de agora, vamos trazer para o contexto da mediação judicial toda e qualquer adoção. Assim, evitamos acolhimentos ao arrepio da lei e acabamos com a possibilidade de tratativas comerciais relacionadas à adoção. A Justiça e o Ministério Público passam a ser mediadores de toda e qualquer adoção”, explica Gomes.
Isso vai beneficiar principalmente os pais que estão na fila de espera, já que 70% dos recém-nascidos nem sequer chegavam a ser cadastrados. “Com a nova lei, essas crianças terão que ser acolhidas sob as regras legais, longe da informalidade”, acrescenta o chefe do Setor de Adoção da VIJ. (HM)

http://www2. correiobrazilien se.com.br/ cbonline/ cidades/pri_ cid_120.htm
Por Cintia Liana

terça-feira, 6 de abril de 2010

Perguntas e comentários constrangedores sobre adoção

Foto: Cintia Liana com filhos de amigos do Grupo Psicologia e Adoção. (Fotos obviamente autorizadas pelos pais.)


Como se não bastasse pensar, têm pessoas que chegam a falar e a fazer comentários constrangedores frente a uma família adotiva.

Como profissional só não ouvi de tudo porque parece que tenho escrito na testa que amo a adoção e passo uma segurança imensa no que acredito. Mesmo assim, sempre respondo com amorosidade, porque entendo não se tratar de hostilidade, e sim, de ignorância, de falta de informação.

Darei exemplos:

"Se já é difícil criar um filho que saiu de dentro de mim, imagine um que não coloquei no mundo..."

"Tem que ter muita bondade para adotar uma criança que não se sabe de onde veio."

"A gente sabe que filho adotivo não é igual a filho biológico, não é?"
Essa eu já cheguei a responder assim:
Eu? Eu sei que filho adotivo é normalmente muito mais protegido e dizem até que mais amado que o biológico. (faço o jogo do contrario só para chocar rsrs)

"Esse é o menino que você está criando?"

"...Mas ele não é filho legítimo..."
(Legítimo vem da palavra lei e a adoção é respaldada pela lei)

"Você sabe quem são os pais?"
Já orientei gente que sofria a falar sorrindo levemente, "Sei, somos eu e meu marido."


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Foto: "A Gata Borralheira". Google Imagens.

Uma vez, uma assistente social que trabalhava comigo me falou que uma senhora ligou para o Serviço Social e disse:

- Alô! Eu quero saber como se faz para adotar uma criança.

Assistente Social respondeu:

- A senhora tem que vir até aqui, pegar uma lista de documentos, providenciar todos, voltar para entregá-los e fazer o estudo social. Depois marcará avaliação psicólógica no Serviço de Psicologia, seu processo de habilitação passará pelo Ministério Público e pelo Juiz. Sendo aprovado seu pedido de habilitação, a senhora irá esperar numa fila até ser disponibilizada uma criança dentro do seu perfil de preferência para um estágio de convivência, paralelamente serão feitas as devidas avaliações psicossociais, seguido de setença judicial, finalizando assim o processo de adoção.

E a senhora finalizou:

-Não minha filha, isso é muito complicado! Eu só queria uma menina para "passar uma vassoura" em minha casa!

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Como podemos discutir com uma pessoa que tem essa idéia de adoção?

Não discuta, não se constranja, ensine!


Por Cintia Liana

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Quando Desconectados

Este texto é de uma pessoa muito querida, que se tornou uma amiga especial. Aos poucos fomos nos aproximando mais, compartilhando idéias, palavras e sentimentos sobre a vida. Muita honra para mim, pois é uma pessoa com muito mais experiência de vida que eu.
Roza, com z, tem uma vida construída em cima de trabalho, respeito e amor por todos que a cercam. Ela é mulher, mãe da uma bonita família, "quase vovó", ser humano sensível, encantador e iluminado.
Obrigada Roza, por fazer parte de minha vida e por me agraciar com seus e-mails, poemas e o carinho involuntário de sempre.
Cintia Liana

Foto: Google Imagens

Quando desconectados


Por Antonia Roza


A vida com seus altos e baixos, com as obrigações familiares, sociais, ocupacionais, assistenciais, vai deixando em nós marcas e, pior que isso, vai nos roubando a energia, o vigor, a coragem, vai tolhendo nossos movimentos e nos leva, finalmente, a desejar um lugar onde possamos enfiar a cabeça, isolando-nos do mundo, de tudo e de todos, para que possamos sentir um pouco de paz.
Chega um momento em que, para não piorarmos a situação, vamos nos calando, calando, sem querer preocupar ou incomodar ninguém e vamos sufocando nossa voz, tolhendo nossos movimentos, ficando inferiorizados, esquecendo de que somos estudiosos, inteligentes, dedicados e muito capazes para enfrentar grandes desafios. Ficamos minúsculos diante de situações e de seres que longe estão de atingir nosso nível de discernimento e de desenvolvimento e, em assim nos sentindo, perdemos totalmente a alegria da vida.
Isso só ocorre com as pessoas comprometidas com a família, com os amigos, com as responsabilidades.
Nesse emaranhado em que nos encontramos, ficamos desconectados do nosso “Eu Superior”, esquecemos de nossas crenças e de que, em momento algum, Deus não nos abandona.
Quando pensamos que estamos sofrendo escondidos , sozinhos, ele sussura ao ouvido de alguém e, este alguém passa a se preocupar conosco, independentemente de falarmos qualquer coisa. Aceite a orientação dessa pessoa que procura lhe ajudar.
Certamente ela lhe recomendará ir ao médico, a um psicólogo ou a um outro profissional habilitado.
Não seja resistente , não aumente o seu sofrimento. Seja dócil e humilde o bastante para se deixar conduzir. Tem momentos na vida em que temos que nos entregar aos cuidados de quem nos ama, de quem quer nos ajudar. O nosso Pai quer que nos deixemos carregar quando o peso do nosso fardo estiver demais para nós sozinhos.

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Roza, você é linda!
Por Cintia Liana

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Criança Hiperativa?

Respondendo à uma dentre tantas outras perguntas de mães biológicas e adotivas preocupadas com seus filhos, resolvi postá-la aqui, com omissão de nomes, é claro, e de detalhes que possam identificar a pessoa. Se trata de um assunto mais que corriqueiro.

Foto: Google Imagens


Ela diz:
Oi, há quanto tempo...! Conheci seu trabalho e quero te pedir uma orientação. Minha filha  está precisando de ajuda, de terapia. Disseram que é hiperativa e que agora precisa voltar a tomar os remédios, porque está pior. Você pode me orientar?

Respondo:
"Oi, querida! Obrigada pela confiança em me expor o caso. Vou ousar falar algo, mas será bem resumido. Se quiser um dia conversar mais detalhadamente me fale. 

Como sou especialista em Psicologia Conjugal e Familiar, tenho uma natural tendência a enxergar o comportamento da criança num contexto maior, principalmente, na família, respaldada em teorias sistêmicas. Vejo o problema ou o comportamento desagradável como um sintoma do que podemos chamar de “adoecimento” familiar e nela mesmo, na própria família, sua estrutura e organização, encontramos muitos motivos para a criança apresentar tais sintomas.

Hoje está sendo vastamente discutido essa insistência de alguns profissionais, principalmente inexperientes ou com uma visão reducionista da psique, em rotular, classificar a criança como hiperativa e, o pior de tudo, medicá-la (não sou contra a remédios, quando necessário).

Não questiono o diagnóstico de forma tão segura porque não conheço o caso profundamente, as avaliações e exames aplicados, o diagnóstico detalhado e tampouco a idade de sua filha.

Um diagnóstico de hiperatividade para uma criança com menos de 7 anos, por exemplo, normalmente é muito precipitado e perigoso, pois até essa fase ela passa por diversas mudanças e estímulos, alterando seu comportamento de forma veloz e, mesmo a hiperatividade propriamente dita, pode ser um sintoma de um problema na família, ou a relação da criança com sua própria história de vida e ele pode vir a tona através de uma patologia ou na alteração do comportamento e sua relação com o mundo.

Atualmente, sou uma profissional que só atende a criança se os pais aceitarem fazer duas sessões ao mês de terapia comigo pois, antes de tudo, eles precisam mudar seus padrões, inclusive enxergar os intergeracionais e aprender a decifrar aspectos subjacentes de sua relação com o filho. A minha experiência e os teóricos dizem que não adianta, que é inútil tratar a criança e depois reinseri-la no mesmo ambiente “adoecido”, o ambiente que a faz adoecer.

Os pais, muitas vezes, “fogem” porque se sentem em culpa, mas se já tiveram o filho, porque não encarar a “responsabilidade” de mudar a vida de todos?

Esse adoecimento é bem mais natural do que pensamos. Como se diz muito por aí, “isso acontece nas melhores famílias". Essa frase nos remete a um alívio, para com facilidade aceitarmos o problema e encarar as mudanças, pois é difícil ser a exceção negativa.

Temos que desmascarar essa história de que família boa e feliz é a família perfeita, porque esse é um ideal, não existe família perfeita. É ainda mais bonito ver alguém lutando para se entender e ser cada vez mais saudável.

É bem mais fácil quando se assume a responsabilidade de transformar, apesar de ser mais complicado entender todo esse processo, mas colocar o foco na criança é maquiar a verdadeira face do problema maior, entende? Isso é tão claro hoje para mim...

Espero ter ajudado, iluminado um pouquinho. Estou a disposição para conversar.

Por Cintia Liana