"Uma criança é como o cristal e como a cera. Qualquer choque, por mais brando, a abala e comove, e a faz vibrar de molécula em molécula, de átomo em átomo; e qualquer impressão, boa ou má, nela se grava de modo profundo e indelével." (Olavo Bilac)

"Un bambino è come il cristallo e come la cera. Qualsiasi shock, per quanto morbido sia
lo scuote e lo smuove, vibra di molecola in molecola, di atomo in atomo, e qualsiasi impressione,
buona o cattiva, si registra in lui in modo profondo e indelebile." (Olavo Bilac, giornalista e poeta brasiliano)

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Os nossos Guris

Resolvi começar o ano aqui com Chico Buarque. Bom começo!
Ao visitar o Blog "A queima roupa", que faz denúncias sociais em forma de arte, música e literatura, resolvi postar essa música, pois fala muito da realidade aqui tratada.
Penso que todos esses guris nas ruas das grandes cidades e favelas são nossos também. E partindo desse princípio, acredito que devamos pensar neles e, de algum modo, cuidar. Muitos desses guris são doados para adoção, mas precisamos de mais gente que queira fazer adoções de crianças maiores.
Esses guris são crianças, anjos que precisam de amor, cuidados, limites, educação. Por mais que os que estão matando e roubando mereçam uma vida digna, melhor, devemos lembrar que não são os memos que estão nos abrigos esperando por uma família.
Os que estão na marginalidade são usados por outros adultos para cometer crimes e os que estão nos abrigos não têm ninguém.
As crianças que não são adotadas e que não voltam para as suas famílias de origem, crescem nos abrigos e com 18 anos têm que sair e buscar outro lugar para morar.
Nem todos os abrigos são inscritos em projetos que profissionalizam os jovens que nele vivem.
Alguns adolescentes, por terem ótima relação com o abrigo e com quem nele trabalha, acaba por completar 18 anos e continua lá, trabalhando, ajudando.



Meu Guri
(Buarque de Holanda)

Quando, seu moço, nasceu meu rebento
Não era o momento dele rebentar
Já foi nascendo com cara de fome
E eu não tinha nem nome pra lhe dar
Como fui levando, não sei lhe explicar
Fui assim levando ele a me levar
E na sua meninice ele um dia me disse
Que chegava lá Olha aí Olha aí
Olha aí, ai o meu guri, olha aí
Olha aí, é o meu guri
E ele chega

Chega suado e veloz do batente
E traz sempre um presente pra me encabular
Tanta corrente de ouro, seu moço
Que haja pescoço pra enfiar
Me trouxe uma bolsa já com tudo dentro
Chave, caderneta, terço e patuá
Um lenço e uma penca de documentos
Pra finalmente eu me identificar, olha aí
Olha aí, ai o meu guri, olha aí
Olha aí, é o meu guri
E ele chega

Chega no morro com o carregamento
Pulseira, cimento, relógio, pneu, gravador
Rezo até ele chegar cá no alto
Essa onda de assaltos tá um horror
Eu consolo ele, ele me consola
Boto ele no colo pra ele me ninar
De repente acordo, olho pro lado
E o danado já foi trabalhar, olha aí
Olha aí, ai o meu guri, olha aí
Olha aí, é o meu guri
E ele chega

Chega estampado, manchete, retrato
Com venda nos olhos, legenda e as iniciais
Eu não entendo essa gente, seu moço
Fazendo alvoroço demais
O guri no mato, acho que tá rindo
Acho que tá lindo de papo pro ar
Desde o começo, eu não disse, seu moço
Ele disse que chegava lá
Olha aí, olha aí
Olha aí, ai o meu guri, olha aí
Olha aí, é o meu guri

...................

Um outro blog, "Em busca do eu", me presenteou mostrando um outro vídeo que tive o desejo de publicar aqui. Mostra crianças do morro sambando ao som de Chico Buarque.



Mostro esse vídeo com a intenção de refletirmos sobre a alegria, a ingenuidade e a esperança das crianças do morro, dançando com tanta ternura.

Será que realmente a delicadeza deste País está perdida?

Por Cintia Liana

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