"Uma criança é como o cristal e como a cera. Qualquer choque, por mais brando, a abala e comove, e a faz vibrar de molécula em molécula, de átomo em átomo; e qualquer impressão, boa ou má, nela se grava de modo profundo e indelével." (Olavo Bilac)

"Un bambino è come il cristallo e come la cera. Qualsiasi shock, per quanto morbido sia
lo scuote e lo smuove, vibra di molecola in molecola, di atomo in atomo, e qualsiasi impressione,
buona o cattiva, si registra in lui in modo profondo e indelebile." (Olavo Bilac, giornalista e poeta brasiliano)

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Os cuidados voltados para a criança abrigada

Foto: Google Imagens

*Podemos também refletir sobre que tipo de preparo ou interesse o Estado tem em fazer uma seleção de profissionais sérios e respeitosos, preocupados, acima de tudo, com o bem estar da criança. Para tal função, deveria ser feita uma seleção totalmente minuciosa e um treinamento dessas pessoas, com base em teorias do desenvolvimento infantil e da adolescência e das emoções, para que essas pessoas pudessem proporcionar a essas crianças uma educação e dedicação com excelência, mas que mesmo assim não se assemelharia aos cuidados de uma mãe amorosa, consciente e com as atenções voltadas para o seu bebê, colocando-o como prioridade.
É importante ressaltar que aqui não há nenhuma intenção de desqualificar o trabalho das mães e pais sociais. Há aqueles que são muito habilidosos e afetuosos, mas num olhar geral, os pais e mães sociais são contratados para cuidar e não só de uma criança, mas às vezes de oito ou mais crianças, como é o caso de uma casa-lar, por exemplo. Abrigos que são projetados com a proposta das casas-lares, que dividem as crianças em espaços diferentes, que se assemelham a casas de verdade.
Podemos dizer que o pai ou mãe social faz as vezes de uma babá, por exemplo, que executa o trabalho de um ponto de vista profissional, mesmo que empenhe naquilo muito amor. Mas para ser pai e mãe os papéis devem ser reafirmados e reforçados a cada dia e a criança passa a ser olhada como ser único e não como mais um no abrigo, a espera por uma família.

Alexandre e Vieira (2004, p. 1 e 2), sobre a manifestação do comportamento de apego das crianças nos abrigos, dizem que:
“Apego é uma ligação contínua e íntima, apresentado pela criança em relação à mãe ou cuidador e o comportamento de apego é qualquer forma de comportamento adota para conseguir e/ou manter uma proximidade com algum outro indivíduo claramente identificado, por exemplo, a mãe. (Klaus, Kennell & Klaus, 2000)”.

Eles afirmam ainda que, segundo Bowlby (1990), uma criança que tem um lar harmonioso e pais afetuosos e protetores conseguem desenvolver um sentimento de segurança e confiança em relação àqueles que fazem parte de sua convivência. Mas, do contrário, se a criança é exposta a crescer numa situação de privação de vida familiar, pressupõe-se que sua base suportiva e de segurança tende a desaparecer o que pode comprometer sua relação com as outras pessoas, havendo prejuízos em outros setores do seu desenvolvimento.
O estudo sobre a resiliência também revela que crianças que cresceram no abandono podem apresentar uma adaptação positiva, uma capacidade notável para se desenvolver de forma saudável. “Em síntese, uma segura relação de apego reduz os efeitos das adversidades e auxilia na resiliência”. (ALEXANDRE e VIEIRA, 2004, p. 2)
Alexandre e Vieira (2004) também dizem que a criança quando institucionalizada, mesmo recebendo cuidados alimentares, higiênicos e médicos, ela caminha tardiamente, demora a falar e tem dificuldade para estabelecer ligações significativas. No abrigo a criança é privada de intimidade e cumplicidade, pois é praticamente impossível estabelecer relação íntima em virtude da quantidade de crianças que é muito maior em relação ao número de adultos. O afeto e a atenção são divididos para várias crianças.
Ainda assim, os funcionários dos abrigos são os únicos a darem suporte a essas crianças, deste modo, é natural que direcionem um comportamento de apego a eles e as demais crianças que nele vivem, como dizem Alexandre e Vieira (2004). Sobre isso, J. Ajuriaguerra diz que não haverá prejuízos à criança se esta romper os vínculos com a ama do abrigo até os 8 meses de vida. Já M. David e G. Apepll acham que entre oito e quinze meses a criança “ainda não construiu uma ligação bastante personalizada com a ama, asseverando, que após esse período não se poderá evitar a ruptura de um vínculo fundamental”. (apud ALMEIDA, 2002, p. 22)
Fica claro a privação de laços afetivos durante a infância interfere no desenvolvimento satisfatório da criança, podendo afetar suas relações com o outro e com o meio que a cerca, assim como, a ruptura dos vínculos construídos nos abrigos.
A colocação em família substituta ou reinserção na família natural – caso esta tenha as condições de acolher novamente a criança e responsabilizar-se por ela - é uma medida de prevenção de problemas psíquicos, afetivos, comportamentais já que observamos como pode ser danoso o rompimento de vínculos ou a inexistência deles para uma pessoa em pleno desenvolvimento. Por isso, a sociedade deve trabalhar o mais rápido para definir o destino de centenas de crianças abrigadas.
É importante deixar claro que os autores consultados para a construção deste trabalho não incentivam a adoção como um estímulo de abandono, como pontua também Weber (2008), é importante também dar suporte a essas famílias carentes. Mas devemos olhar urgentemente para este grande número de crianças que crescem nas instituições, algumas sem nem receber visitas de nenhum familiar ou lembrar deles.

Por Cintia Liana

Referência:

ALEXANDRE, Diuvani Tomazoni; VIEIRA, Mauro Luís. Relação de apego entre crianças institucionalizadas que vivem em situação de abrigo. Psicologia em Estud. vol. 9, nº. 2. Maringá. May/Aug. 2004. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-73722004000200007. Acesso em: 03 de julho de 2008.


*Trecho de minha monografia

Para citar partes deste texto use a referência:

Silva, Cintia L. R. de. Filhos da esperança:Reflexões sobre família, adoção e crianças. Monografia do curso de Especialização em Psicologia Conjugal e Familiar. Faculdade Ruy Barbosa: Salvador, Bahia, 2008.

"Respeite a obra alheia, atribua os créditos ao autor".

Um comentário:

Ana Paula disse...

adorei seu texto maravilhoso estou no primeiro período de psicologia e estou buscando material pra começar meus estudos. adorei..